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Refugiados climáticos devido à subida do mar poderão ser 400 milhões

As Nações Unidas discutiram esta terça-feira vários problemas relacionados com a subida do nível do mar. Guterres diz que “mares a subir são futuros a afundar”.
Manifestação em Melbourne. Foto de John Englart/Flickr.
Manifestação em Melbourne. Foto de John Englart/Flickr.

Fiji, Vanuatu e Ilhas Salomão, locais distantes nos quais se sabe que já começam a haver cada vez mais refugiados climáticos devido à subida do nível do mar. Mas o problema tem uma dimensão global e numa escala “bíblica”.

A metáfora é de António Guterres. O secretário-geral da ONU cita dados da Organização Meteorológica Mundial que indicam ter havido uma subida dos níveis médios do mar desde 1900 mais rápida do que nós últimos três mil anos e que no mesmo período o mar aqueceu mais rapidamente do que em qualquer outra altura em 11 mil anos. E, para ele, “mares a subir são futuros a afundar”.

Guterres deixa claro que há perigo para “uma em cada dez pessoas”, cerca de 900 milhões em todo o mundo: “as consequências de tudo isto são impensáveis. Comunidades de baixa altitude e países inteiros podem desaparecer para sempre. Assistiríamos a um êxodo em massa de populações inteiras em escala bíblica e veríamos uma competição cada vez mais acirrada por água doce, terra e outros recursos”.

Já o presidente da Assembleia Geral da ONU, Csaba Korosi, também recorreu a dados científicos internacionais, no seu caso do Programa Mundial de Investigação Climática, para dizer que o aumento do nível do mar será de um a 1,6 metros até 2100 e para enfatizar que em menos de 80 anos a subida do nível do mar implicará a deslocação de entre 250 a 400 milhões de pessoas.

Na reunião no Conselho de Segurança das Nações Unidas marcada esta terça-feira para debater as implicações da subida do nível do mar especificamente sobre a questão da paz e segurança internacional, os dirigentes da ONU alertaram para os perigos. No caso do diplomata húngaro, este concluiu que “conhecemos os riscos e vemos as incertezas e instabilidades que vamos enfrentar. E não podemos duvidar que isso abrirá as portas para conflitos e disputas, colocando em risco a paz e segurança globais”.

Levantam-se ainda várias questões legais sobre soberania: “o que acontece com a soberania de uma nação, ou membro da ONU, se ela afundar no mar? Existem regras sobre a criação de Estados, mas nenhuma sobre o seu desaparecimento físico. Quem cuida das populações deslocadas? Ou como as primeiras mudanças nas linhas costeiras influenciariam as fronteiras marítimas? E como isso afetaria as zonas económicas exclusivas?”, questionou.

Para além disso, “com boa parte da agricultura global concentrada em planícies costeiras e ilhas baixas, o aumento do nível do mar também está a trazer à tona questões de longo prazo sobre a sobrevivência da humanidade”

Korosi “implorou” portanto ao Conselho de Segurança “que assuma o seu papel nesse esforço coletivo. Senão, temo que a Assembleia Geral da ONU em 2050 represente menos de 193 Estados-Membros”, concluiu.

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