O livro "Diamantes de Sangue" investiga as ligações entre figuras de topo do regime angolano e as violações dos direitos humanos na extração mineira das Lundas e serviu de base à queixa-crime que apresentou na justiça angolana. Na sua opinião, o que determinou o arquivamento deste processo?
Ninguém esperava uma decisão contrária da Procuradoria Geral da República de Angola. Foi um exercício pedagógico de usar a legislação angolana e as instituições relevantes para promover o acesso dos cidadãos à justiça. A PGR fez o seu trabalho. Ouviu as partes e produziu um relatório sobre o caso. Infelizmente, o PGR, general João Maria de Sousa, comunicou primeiro à imprensa portuguesa sobre o arquivamento do caso em Junho. A PGR notificou-me apenas a 21 de Novembro passado, de uma decisão que tomou cinco meses antes, impedindo-me, assim, de recorrer da decisão.
Em menos de um ano passou de acusador a acusado e as figuras denunciadas no livro querem impedir a sua circulação em Portugal. Acha que vão conseguir esse objetivo?
A queixa em Portugal é uma excelente oportunidade para continuarmos a luta pela justiça, num espaço de autonomia judicial. Os generais angolanos conseguirão um objectivo fundamental. Expor a realidade das Lundas de forma mais amplificada. Só tenho a agradecer-lhes por essa oportunidade.
Com a preponderância crescente do capital angolano nos órgãos de comunicação social portuguesa - que pode chegar em breve ao controlo do canal público de tv -, acredita que o trabalho de investigação jornalística à corrupção em Angola fica ameaçado?
O regime angolano pode comprar toda a comunicação social portuguesa, mais algumas mentes influentes da política portuguesa e muitos mais negócios, mas nunca comprará o sentido crítico dos portugueses. Penso que os níveis de arrogância e de boçalismo alarmante dos angolanos que se acham patrões em Portugal, começa a irritar sobremaneira a sociedade portuguesa. Por isso, direi apenas que a influência do regime do Presidente dos Santos, sobre a mídia portuguesa está a chegar ao seu final inglório.
Entrevista por Luís Branco