Questionário enviado às faculdades pela embaixada estadunidense é “ingerência inqualificável”

14 de abril 2025 - 12:24

Mariana Mortágua e diretor da FLUL falaram sobre questionário enviado pela embaixada dos Estados Unidos da América. Coordenadora do Bloco de Esquerda elogia resposta das faculdades portuguesas e fala em "ingerência da autonomia académica".

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Mariana Mortágua
Mariana Mortágua. Still via RTP.

Mariana Mortágua esteve reunida esta segunda-feira com o diretor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) para discutir os desafios das instituições do ensino superior e em concreto o corte dos apoio dos Estados Unidos da América às faculdades portuguesas. A coordenadora do Bloco de Esquerda considera que o questionário que as faculdades receberam da embaixada estadunidense é de uma “ingerência inqualificável”.

O questionário em si colocava perguntas sobre “agendas climáticas”, “contactos com partidos comunistas e socialistas”, “relações com as Nações Unidas, República Popular da China, Irão e Rússia”, mas também sobre “o que fazia para preservar as mulheres das ideologias de género”. Isto segundo o diretor da FLUL, Hermenegildo Fernandes, que ao Eco criticou a “dimensão do descaramento” das perguntas.

“É uma perseguição nunca vista sobre toda a produção científica da faculdade, e nós queríamos destacar a excecionalidade deste momento: há um Estado estrangeiro que acha que tem o direito de decidir o que é que as universidades portuguesas podem ou não investigar”, diz Mariana Mortágua. “Uma coisa que o Estado português não faz, porque as universidades têm autonomia”.

A dirigente bloquista considera que “a resposta por parte das universidades portuguesas foi exemplar” e elogia as posições das direções universitárias que responderam dizendo que “não aceitam a ingerência na autonomia académica em Portugal”. Mas faz também críticas ao Estado português, que tem relação institucional com a embaixada e que “nada fez nem teve uma tomada de posição”.

“O embaixador dos Estados Unidos da América deveria ser chamado pelo Governo para lhe ser transmitida a posição oficial de que Portugal é uma República soberana que não aceita ingerência na sua política científica ou em qualquer outra área”, conclui a dirigente bloquista.

Sobre a “política de censura” que tem sido denunciada nas faculdades estadunidenses, onde inclusivamente há vários investigadores portugueses que fogem da precariedade laboral do meio académico português, Mariana Mortágua sublinha que esta é uma altura para Portugal “investir tudo o que puder” nas universidades, criando mais vagas, carreiras de investigadores e condições para investigação de modo a dizer aos profissionais que saíram de Portugal que “podem voltar”, e aos que estão a sair do Estados Unidos da América que há um futuro em Portugal.

No final da reunião, o diretor da FLUL também prestou declarações aos jornalistas, dizendo que “são preocupações onde estamos alinhados” sobre a ingerência científica por parte da atual administração americana. Em causa está o programa de investigação American Corners.

Abordámos diferentes aspetos relativos ao estado do ensino superior e toquei num ponto que seria interessante, que é o acolhimento de académicos que estão a trabalhar nos Estados Unidos com um programa nacional”, disse Hermenegildo Fernandes.