O Syriza falhou por pouco a eleição dos 151 deputados de que precisava nas eleições na Grécia para governar sozinho, conquistando 149, com uma votação de 36,3% dos votos. O partido formou um governo de coligação com os Gregos Independentes, que obtiveram 13 lugares.
Os Gregos Independentes (Anel), um partido populista de direita, poderia à primeira vista parecer um estranho parceiro para os esquerdistas radicais do Syriza e o acordo forma uma aliança pouco habitual, mas o que os une é o ódio pelo programa de resgate aplicado na Grécia.
Os dois partidos têm pontos de vista mundiais bastante divergentes, ficando muito afastados em questões como a migração ilegal, a relação sempre tumultuosa com a Turquia, seu rival da Nato, o casamento gay e o papel da Igreja Ortodoxa grega.
Sob a liderança de Panos Kammenos, que saiu da Nova Democracia, partido de centro-direita, para formar o Anel no apogeu da crise em fevereiro de 2012, o grupo provou ser raivosamente nacionalista em questões internacionais.
O político é particularmente virulento sobre a necessidade de exigir as reparações de guerra que afirma nunca terem sido devidamente pagas depois da brutal ocupação Nazi do país. Foi acusado de ser antissemita quando afirmou no mês passado que os judeus gregos pagam menos impostos que outros cidadãos.
O seu partido é parte do grupo político dos Conservadores e reformistas Europeus no Parlamento Europeu, que foi fundado por iniciativa de David Cameron.
Tanto o Syriza quanto os Gregos Independentes estão de acordo com a necessidade de pôr fim à austeridade. E ambos sustentam posições veementes na questão especialmente sensível da soberania grega que foi roubada ao país como resultado de seis anos de gestão da odiada troika de credores. O Anel, como o Syriza, diz que os líderes estrangeiros transformaram o país endividado numa “colónia de dívida”.
Além disso, as duas forças políticas colaboraram para bloquear a eleição de um novo chefe de Estado, atitude que acabou por desencadear as eleições de domingo. Com o Syriza e o Anel a rejeitarem frontalmente os compromissos assumidos pelo governo anterior com os credores – que constam nos onerosos acordos de resgate assinados por Atenas com a UE, o BCE e o FMI – irão fazer uma equipa de negociação extremamente dura quando retomarem as negociações este mês.
A nomeação de Kammenos não é boa notícia em Berlim, que forneceu a parte maior dos fundos de resgate de 240 mil milhões de euros a Atenas.
Helena Smith é correspondente do The Guardian para a Grécia, Turquia e Chipre.
Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net