Quem é o português que apoia a rival de Guterres?

29 de setembro 2016 - 15:21

O ex-eurodeputado do PSD e ex-vice-presidente do PPE, Mário David, é o homem que está por trás da candidatura da vice-presidente da CE Kristalina Georgieva a secretária-geral da ONU, apoiada por Angela Merkel.

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Mário David e Durão Barroso mantêm uma amizade que se entrecruza com muitos interesses na área dos negócios

Mário David, atual vice-presidente da Internacional Democrata do Centro (IDC), de que o PSD faz parte, tem vindo a trabalhar intensamente desde há dois anos no apoio a Kristalina Giorgieva e, segundo noticia a revista Visão, “não desistiu, nem mesmo quando a Rússia condenou publicamente as tentativas da Alemanha em influenciar a corrida ao cargo”.

De acordo com a revista, a chanceler alemã Angela Merkel tentou "convencer" Putin a apoiar a candiadatura  da búlgara Kristalina Georgieva, vice-presidente da Comissão Europeia responsável pelo orçamento e recursos humanos, em detrimento de Irina Bokova, o nome que a Bulgária tinha escolhido para disputar o mais alto cargo da ONU.

Mas, refere a Visão, “tendo a Rússia poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, o apoio de Putin a qualquer nome é essencial”.

Como se sabe, António Guterres venceu a quinta votação e Irina Bokova resvalou para o sexto lugar o que deixou Mário David particularmente satisfeito na convição de que as autoridades da Bulgária iriam fazer a troca.

A Visão refere que “mesmo que a Rússia não concorde com o seu nome, o apoio da Alemanha é importante, independentemente de não fazerem parte do Conselho de Segurança, mas dada a frieza das relações entre o lider russo e a chanceler alemã, um deles terá de ceder ou então perder.

Kristalina Geoirgieva já tem o apoio da Alemanha e da Bulgária e também da Hungria, Polónia, Letónia e Albânia, entre outros.

Mário David: Política de direita e negócios obscuros

[caption align="right"]Mário David no momento em que era cumprimentado por Viktor Orban. Foto de Balázs Szecsod/ site da Embaixada da Hungria Mário David no momento em que era cumprimentado pelo extremista de direita Viktor Orban, primeiro-ministro da Hungria. Foto de Balázs Szecsod/ site da Embaixada da Hungria[/caption]

Além de antigo deputado do PSD no Parlamento Europeu e ex-vice-presidente do PPE, Mário David foi assessor político de Durão Barroso e secretário de Estado no governo de Santana Lopes.

Personagem controversa que tem utilizado a política para negócios obscuros Mário David foi, como esquerda.net noticiou em abril deste ano, condecorado pelo primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, com o Grau de Cavaleiro da Ordem de Mérito da Hungria que lhe foi concedido pelo Presidente daquele país, Janos Áder. Esta condecoração foi justificada pelas suas ações no “apoio aos interesses húngaros".

O governo de Orban tem sido um dos mais acérrimos defensores da adoção de políticas que visam impossibilitar a entrada de refugiados na Europa usando a força e um discurso marcadamente racista e xenófobo.

Por outro lado, o esquerda.net publicou, em 30 de agosto de 2015, um artigo de Viviana Viera do portal colombiano Las 2 Orillas intitulado “O homem por detrás dos negócios-fiasco dos portugueses na Colômbia”, onde a jornalista escreve que “o eurodeputado Mário David aproveitou o Tratado de Livre Comércio entre a UE, Colômbia e Peru para beneficiar os seus sócios e o seu filho, com o apoio do governo Santos. A irmã da ministra dos Negócios Estrangeiros tornou-se gerente uma das empresas lusas”.

E mais adiante sublinha que “ nos jornais europeus ele aparece ligado a um caso de corrupção na compra de armamento alemão. O vendedor de armas revelou no Parlamento ter reunido, em várias ocasiões, com Mário David, então assessor político de Barroso, que concretizou a venda”.

O artigo de Viviana Viera refere ainda que Mário David, pediu para ser relator "unicamente" de dois relatórios durante os seus cinco anos de mandato, um deles é o Tratado de Livre Comércio (TLC) entre a UE e a Colômbia e o Peru.

“Trata-se do mais importante acordo subscrito nestes últimos anos e que regulamenta as relações económicas, comerciais, financeiras e políticas entre os dois países andinos e esse enorme bloco económico de 28 países europeus. Desde então começa a encruzilhada portuguesa face à Colômbia”, sublinha Viviana Viera.

Neste trabalho pode ainda ler-se que  como relator, Mário David teve de convencer a maioria do Parlamento Europeu que o TLC com a Colômbia e o Peru iria trazer" muitos benefícios” embora se tenha “esquecido” de apontar que “esses benefícios iam ser para a sua família de sangue e também para a sua família política”.

Mário David no momento em que era cumprimentado por Viktor Orban. Foto de Balázs Szecsod/ site da Embaixada da Hungria