Violência policial

PSP sob suspeita de manipulação de provas para justificar tiros contra Odair

12 de dezembro 2024 - 10:59

A Polícia Judiciária suspeita que uma faca tenha sido retirada da bolsa de Odair Moniz e colocada no chão após ter sido baleado pelo agente. E já concluiu que o auto de notícia não foi escrito pelo agente, ao contrário do que disse a versão oficial da PSP.

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Luís Carriho, diretor nacional da PSP.
Luís Carriho, diretor nacional da PSP. Foto PSP/Facebook

As circunstâncias da morte de Odair Moniz, baleado no dia 21 de outubro por um agente da PSP no bairro da Cova da Moura, na Amadora, bem como da atuação da polícia nos momentos que se seguiram, continuam sob investigação da Polícia Judiciária. E a imprensa revelou nas últimas horas que os investigadores encontram razões para desconfiar da versão oficial avançada pela PSP para explicar o que ocorreu naquela madrugada.

Segundo o jornal Expresso, a Judiciária suspeita que a faca que Odair trazia consigo dentro de uma bolsa tenha sido “plantada” no chão para justificar os tiros disparados pelo agente da PSP. Nas primeiras declarações quando foi interrogado pela Judiciária, que não podem ser usadas em tribunal por terem sido feitas sem a presença de um advogado, o agente disse que julgou ter visto uma arma nas mãos de Odair, mas que este não a empunhara nem tentara agredir os agentes com ela. Quase à mesma hora, o comunicado da PSP após a morte fazia referência a uma tentativa de agressão com arma branca. Confrontada com a contradição entre as declarações do agente e o seu comunicado, a direção da PSP insistiu na sua versão, dizendo que o auto de notícia elaborado pelo agente a corroborava.

Mas agora é o próprio auto de notícia que está sob suspeita de ter sido falsificado. Segundo avança a CNN Portugal, a Polícia Judiciária já concluiu que o auto de notícia não pode ter sido escrito pelo agente que baleou a vítima, pois à hora em que foi elaborado o agente se encontrava a prestar declarações à Polícia Judiciária. E quando o auto chegou à PJ para ser junto ao processo nem sequer estava assinado pelo agente que supostamente seria o seu autor.

Este agente, que continua de baixa e com a medida de coação mais leve de Termo de Identidade e Residência, foi ouvido na quarta-feira no Ministério Público, mas optou pelo silêncio face às questões colocadas pela procuradora Patrícia Agostinho, com a defesa a alegar não ter tido acesso ao processo que se encontra sob segredo de justiça.