Dezenas de pessoas participaram na concentração, assembleia e desfile pelas ruas de Sines esta quinta-feira. No final da marcha foi aprovado um manifesto à República a exigir um travão imediato da destruição sistémica do litoral alentejano, o respeito integral pela vontade popular nos processos de decisão e um estudo dos efeitos cumulativos de todos os projetos neste território.
"Saímos à rua para exigir justiça social e ambiental no litoral alentejano. Queremos dizer à República com toda a clareza que este território está a ser sacrificado em nome dos interesses económicos, com graves consequências para o ambiente e para a vida de quem aqui vive e trabalha", afirmou à SIC Bruno Candeias, um dos organizadores deste protesto convocado por 18 coletivos e associações da região.
Concentração em Sines. Foto de Felizarda Barradas.
"Exigimos que se garanta o respeito integral pela vontade das populações naquilo que é o futuro dos seus territórios que têm sido esmagados constantemente”, prosseguiu o ativista em declarações à agência Lusa, dando como exemplo o encerramento da central termoelétrica de Sines, que “deitou cerca de 300 trabalhadores para o desemprego”, mas também "a especulação imobiliária que é gerada pelo turismo de luxo", a par de "um conjunto de investimentos que se especulam para Sines e fazem aumentar o preço das casas”.
Marcha em Sines. Foto de Felizarda Barradas.
“Por outro lado, temos megaempreendimentos de produção de energia que vão destruir áreas imensas de solo produtivo, como o abate de 1.800 sobreiros em Sines. Consideramos que as energias renováveis são compatíveis com a natureza, desde que se determine os locais próprios para a sua instalação, como solos improdutivos e espelhos de água”, defendeu.
Estes movimentos querem “ter uma palavra a dizer em matéria de desenvolvimento sustentável”, afirmou Kaya Schwemmlein, outra das organizadoras da marcha, criticando os prejuízos para o ambiente e as populações por causa destes megaprojetos e concluindo que desta forma a transição climática "está a fazer lucrar aqueles que trouxeram as alterações climáticas”.
Marcha em Sines. Foto de Felizarda Barradas.
Entre os participantes da marcha ouviam-se muitas críticas aos empreendimentos turísticos de luxo que se multiplicam na costa alentejana e que conduzem ao "afastamento do povo das praias que sempre frequentou e à destruição das dunas onde são construídos estes resorts, no momento em que sabemos que no futuro o mar pode galgar e provoca graves problemas". Mas também "ao desperdício de água com um consumo exageradíssimo e completamente insustentável e injusto para as populações locais que também precisam dessa água e já sentem a falta dela".