Com percentagens entre 73 e 77%, as primeiras projeções indicam que Vladimir Putin conquistou hoje o seu quarto mandato como presidente da Rússia, governando assim o país por mais seis anos. O resultado destas eleições já era esperado, com Putin a liderar todas as sondagens. O ex-agente do KGB está à frente da Rússia há 18 anos, tendo sido eleito presidente pela primeira vez no ano 2000.
O terceiro mandato de Putin, que passou de quatro para seis anos através de uma mudança na constituição, teve um impacto político superior aos dois mandatos anteriores. A anexação da Crimeia é considerada uma viragem que catapultou a então estagnada aprovação eleitoral de Putin e levou à deterioração das relações com o Ocidente. A espiral das sanções, inicialmente aplicadas com relutância pelo Ocidente, ganhou mais força com a suposta intromissão russa nas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América em 2016. Porém, até o momento, essas sanções causaram menos danos a Moscovo do que a queda dos preços do petróleo e gás no mercado internacional em 2014. Em declarações ao Deutsche Welle, o sociólogo Lev Gudkov, diretor do Centro Levada, explica que “a alta aprovação da sua política, independente da onda militar e patriótica, baseia-se na falta de alternativa e em ilusões de importância”.
Após o dramático retrocesso dos últimos anos, a economia russa voltou a crescer lentamente e a inflação parece sob controle. Mas apesar disso, os rendimentos reais da população caíram 1,7% pelo quarto ano consecutivo. Enquanto isso, foram mantidos os elevados gastos em armamento, em detrimento da cultura e da saúde.
Aniversário da anexação da Crimeia
A escolha da data das eleições, coincidente com o quarto aniversário da anexação da Crimeia, poderá ter ajudado a reavivar a euforia sentida em 2014. Recorde-se que a anexação foi aprovada pela população da península de maioria russófona num referendo não reconhecido pela comunidade internacional. Até ao momento, e de acordo com a Comissão Central de Eleições, Putin obteve 91,69% dos votos expressos pelos 1,5 milhões de eleitores convocados na Crimeia para as eleições hoje.
Na sexta-feira, a Ucrânia advertiu que ia proibir aos eleitores russos o acesso aos consulados do seu país para votarem nas presidenciais, destacando agentes policiais para as representações diplomáticas russas em Kiev, Kharkiv, Odessa e Lviv. Segundo a Agência Lusa, ativistas e membros de partidos nacionalistas ucranianos organizaram piquetes de protesto defronte da embaixada da Rússia em Kiev para protestar contra a votação para as presidenciais russas.
A data também não foi esquecida por outros países, com França a indicar que não reconhece a realização de eleições presidenciais russas na Crimeia, quatro anos após a “anexação ilegal” da península. “Quatro anos após a anexação ilegal da República Autónoma da Crimeia e de Sebastopol, a França continua firmemente comprometida com o restabelecimento da soberania e integridade territorial da Ucrânia nas suas fronteiras reconhecidas integralmente”, assinalou o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês num comunicado. “Pôr em causa pela força as fronteiras é contrário ao direito internacional, incluindo os compromissos subscritos pela Federação Russa”, adiantou.
Denúncias de irregularidades
A oposição russa e uma organização não-governamental já vieram denunciar irregularidades durante as eleições presidenciais, visando sobretudo aumentar a participação no escrutínio. Segundo a Agência Lusa, a ONG Golos, especializada na monitorização das eleições e que tem no seu site um “mapa das fraudes”, deu conta de 1 839 irregularidades até às 11:00 TMG (mesma hora em Lisboa), como votações múltiplas ou entraves ao trabalho dos observadores.
A Golos disse ter recebido informações sobre empregadores e universidades que obrigaram trabalhadores e estudantes a votarem no seu local de trabalho ou estudo, em vez do domicílio, para “controlar a sua participação no escrutínio”.
O movimento do principal opositor do Kremlin, Alexei Navalny, que afirma ter destacado mais de 33 000 observadores para as assembleias de voto, também divulgou centenas de casos de fraude, principalmente em Moscovo, em São Petersburgo e em Basquíria. Recorde-se que Navalny é considerado o principal opositor ao governo de Putin e viu a sua candidatura impedida, tendo apelado ao boicote às eleições.
Alguns observadores do movimento de Alexei Navalny denunciaram impedimentos ao seu trabalho. Militantes da oposição também referiram que alguns eleitores foram levados de autocarro pela polícia até às assembleias de voto, enquanto outros receberam cupões de desconto por terem ido votar.