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Prédios da Fidelidade no carrossel das offshores
Os prédios da Fidelidade vendidos o ano passado ao fundo americano Apollo fazem agora parte de um complexo esquema piramidal de empresas sediadas em offshores, revela hoje o Público.
Os inquilinos dos 271 imóveis da antiga seguradora estatal, situados em Lisboa, Porto e mais 38 concelhos do país, passaram a ter como senhorio quatro empresas portuguesas — a Meritpanorama, a Fragrantstrategy, a Notablefrequency e a Neptunecategory. Estas empresas pertencem à AEPF III 35, que por sua vez pertence à AEPF III 13 — ambas empresas da Apollo sediadas no Luxemburgo, que tem no grão-ducado mais de 40 empresas com este nome, distinguido-se apenas pelo número, que vai até 45. O passo seguinte da cadeia leva até às ilhas Caimão e a mais três sociedades da Apollo, todas sediadas na caixa postal 309 da Ugland House.
A Ugland House, sede da consultora jurídica e financeira Maples and Calder, é um edifício notório por ser a sede de mais 20 mil empresas. Barack Obama, quando era candidato presidencial, ironizou que o edifício, ou era o maior do mundo (tem cinco pisos), ou era o maior esquema de evasão fiscal do mundo. Obama já não é presidente, a Ugland House continua a operar.
A história remonta à privatização da Fidelidade e demais setor segurador da Caixa Geral de Depósitos, vendidos em 2014 pelo governo de Passos Coelho ao grupo chinês Fosun. O ano passado, a Fosun por sua vez vendeu os imóveis à Apollo. Ainda antes da venda, começou a enviar cartas aos inquilinos comunicando-lhes não pretender renovar os contratos de arrendamento.
O caso gerou na altura polémica e muita preocupação entre os inquilinos, alarmados pela possibilidade de ser expulsos de casas onde viviam por vezes há décadas. O Bloco de Esquerda apresentou em julho de 2018 um projeto de lei para proteger os inquilinos em situações semelhantes, dando direito de preferência aos moradores sobre a venda da sua fração. O projeto foi aprovado no parlamento, mas vetado em agosto por Marcelo Rebelo de Sousa, o que permitiu à Fosun concluir o negócio antes de a lei entrar em vigor.
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