Autárquicas 2025

Porto: Sérgio Aires desafia esquerda a romper com a cidade‑negócio

11 de julho 2025 - 16:54

Combate à pobreza, habitação, cultura, clima e mobilidade são prioridades do candidato do Bloco à Câmara do Porto. "Há muitas camas para turistas, poucas casas para quem vive no Porto", afirmou.

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Sérgio Aires
Sérgio Aires. Foto de Leonardo Faria

No Jardim de São Lázaro - o mais antigo da cidade e simbolicamente dedicado às mulheres do Porto aquando da sua criação - Sérgio Aires apresentou a candidatura do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal do Porto. O candidato independente apontou o caminho para uma cidade mais justa, com prioridades claras: habitação pública, cultura, mobilidade sustentável, combate às alterações climáticas, economia para todos e trabalho com direitos.

O candidato independente do Bloco explicou os contactos havidos com outros partidos à esquerda e declarou que fez tudo para que houvesse uma candidatura conjunta à esquerda de Manuel Pizarro. Para Sérgio Aires "o momento não é de lugares nem protagonismos", e desafiou as candidaturas à esquerda do PS a convergirem, dando conta que se tinha disponibilizado inclusivamente para fazer uma convergência com o Livre, mesmo sendo o Livre a indicar o cabeça de lista, proposta que o partido declinou. "Estamos aqui! E aqui estaremos com toda a convicção de que a cidade reconhece quem sempre aqui esteve. E, repito, ainda não é tarde para este tipo de entendimentos. Eu continuo disponível”, afirmou.

“Há muitas camas para turistas, poucas casas para quem vive no Porto”, afirmou, denunciando o avanço da turistificação, da especulação imobiliária e das expulsões silenciosas. Criticou os partidos que deram sustentação a Rui Moreira ao longo dos seus mandatos - PSD e PS - e alertou para que “as candidaturas que agora se apresentam dificilmente farão a diferença”.

Ao longo do discurso, traçou um balanço dos quase quatro anos como vereador: “Sem assessores, com 15 minutos de intervenção por reuniões e metade destas à porta fechada, tentaram impor a ‘lei da rolha’, referiu, sublinhando que essa atitude em reação à eleição de um vereador do Bloco “é uma medalha”. lembrou algumas vitórias e propostas aprovadas, e a iluminação do município com a bandeira da Palestina.

Destacou o trabalho feito com os restantes eleitos do Bloco, do município às freguesias, reconhecendo, num percurso de proximidade e compromisso, a solidariedade coletiva como motor da resistência institucional. “Estivemos em muitas lutas, fizemos dezenas de propostas, creio que a nossa intervenção fez diferença na cidade”, sublinhou.

“O mercado, sem regras, não é resposta para o futuro”

O combate à pobreza e a defesa de um desenvolvimento económico e social continua a ser prioridade da candidatura do Bloco. O programa apresentado defende habitação pública em larga escala, a reabilitação de prédios devolutos, a regulação do mercado, a revisão dos critérios de acesso à habitação social e uma resposta urgente para mais de mil agregados em lista de espera. Rejeita a “cidade para os investidores” e propõe uma cidade com direitos para quem nela vive. 

Na cultura, o Bloco propõe uma Carta Municipal construída com os agentes locais, o fim da lógica de projetos curtos e apoios instáveis, e a valorização da criação comunitária. A cidade precisa de uma política que “não esteja subordinada a projetos ou programações impostas” e “não pode ser uma montra turística com cultura de ocasião”, afirmou, lembrando a receção oficial ao embaixador de Israel em Serralves, uma fundação com financiamento público, o qie não é politicamente neutro”.

Apresentação da candidatura do Bloco à Câmara Municipal do Porto
Apresentação da candidatura de Sérgio Aires à Câmara Municipal do Porto. Foto de Leonardo Faria

Para a mobilidade, transportes públicos gratuitos, bicicletas partilhadas, ciclovias seguras, zonas pedonais e redução da velocidade automóvel. “Um Porto seguro é o que protege quem anda a pé, de bicicleta ou de transportes”, afirmou, bem como uma visão ambiental que enfrente o colapso climático com justiça social.

Sérgio Aires criticou ainda o crescimento do discurso securitário promovido por PSD e CDS. “Com pobreza e exclusão social não há liberdade nem democracia. Clama por uma cidade que ouça quem nela vive e não apenas quem nela investe. Contra a retórica do medo, Sérgio Aires contrapõe uma ideia de segurança centrada na inclusão, na igualdade e nos direitos. A maior insegurança que enfrentamos é a insegurança habitacional, a precariedade, o abandono dos serviços públicos, a perseguição de quem é imigrante ou LGBTQIA+”, afirmou.

“Estamos aqui” foi a frase repetida ao longo da intervenção. “Aqui” não apenas como ponto de partida, mas como princípio ético e político: estar presente nas lutas, nas ruas, nos bairros, nas reuniões e onde for preciso para mudar a cidade com quem nela vive. A candidatura do Bloco junta pessoas com percurso diverso - como DJ Farofa, o ativista Filipe Gaspar, o histórico dirigente do Bloco  José Castro ou a ativista antirracista Mariana Gil - num projeto que propõe pontes, não desiste da confluência à esquerda e que quer governar com quem vive e cuida a cidade.

O Porto não precisa de mais “fotocópias de Moreira”, atirou Sérgio Aires. Precisa, segundo o candidato, de quem tenha coragem de romper com 24 anos de governações de direita e construir um porto seguro para todas as pessoas.