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Poluição no rio Douro já voltou aos níveis anteriores à pandemia

Depois de um recuo na poluição no rio Douro a níveis só observáveis há 30 anos, regressaram os valores registados antes do confinamento. Além das fraldas, pensos higiénicos, preservativos e outro lixo que vai parar ao rio, juntam-se agora as máscaras e luvas descartáveis.
Fotografia de Ambiente Magazine.

As informações sobre o impacto ambiental do confinamento causado pela pandemia de covid-19 eram as boas notícias num mar de dados sobre infeções, contágios e óbitos. À medida que o mundo confinava e os serviços paravam ou reduziam o seu funcionamento, os níveis de poluição diminuíam. Que o regresso aos valores normais iria ocorrer após o desconfinamento já se sabia, mas a rapidez tem surpreendido.

Em Portugal, o rio Douro é disso exemplo: se durante o estado de emergência os valores de contaminação do estuário baixaram a níveis só observados há 30 anos, agora já se encontram nos níveis observados antes da pandemia.

Tal como acontecia antes do mês de abril, as águas não estão próprias para banhos e o nível de contaminação fecal voltou a ser um problema. 

O Professor universitário  e hidrobiólogo Adriano Bordalo e Sá opta, contudo, por ver o lado positivo: “com algum esforço, é possível, de uma forma dramática, melhorar a qualidade do estuário”, afirmou ao jornal Público. Bordalo e Sá dedica-se há 35 anos ao estudo científico do Douro. A sua equipa do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) recolhas semanais na margem direita do rio em quatro locais: a ribeira da Granja, o rio Tinto, a ribeira de Gramido e um ponto entre as pontes do Infante e de D. Maria Pia. 

“Com o fim do estado de emergência e a primeira fase do desconfinamento, os valores começaram a subir ligeiramente, o que aconteceu até à segunda fase; e a partir da terceira fase os valores dispararam, correspondendo ao aumento do fluxo de pessoas nos espaços urbanos”, explica o professor. 

Que a diminuição da mobilidade tem um impacto na poluição e na quantidade de esgoto produzido é sabido, mas há que explicá-lo. Em média, diz o Público, cada habitante de cidades como o Porto, Gondomar e Vila Nova de Gaia (municípios urbanos que drenam para o estuário) consome 100 litros de água por dia. Destes, 80 passam a esgoto. Se retirarmos da equação o esgoto produzido por aqueles que se deslocam para trabalhar ou estudar nestas cidades, bem como os turistas, os níveis de produção diminuem substancialmente. 

“Quer se queira quer não se queira, continua a haver uma parte do esgoto urbano dos municípios drenante para o estuário”, afirma Adriano Bordalo e Sá. 

E uma melhoria real das condições do rio só é possível com um “esforço colectivo intermunicipal para retirar definitivamente das linhas de água o esgoto que ainda chega a essas linhas, canalizando-o para as ETAR [Estação de Tratamento de Águas Residuais]”, aponta o hidrobiólogo.

Neste momento, as oito ETAR que drenam para o estuário do Douro têm de lidar com o lixo que habitualmente lá ia parar e com o novo lixo produzido com equipamento de proteção individual.

Além de fraldas, pensos higiénicos, preservativos, cotonetes e pedaços de roupa, que se foram tornando comuns nestes locais, estão a chegar quantidades significativas de “máscaras, luvas e toalhetes desinfectantes”.

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