Criptomoedas

PJ apanha suspeito de criptofraude internacional

15 de outubro 2024 - 15:51

A detenção de um cidadão luso-russo em Cascais surge no âmbito de uma operação do FBI a uma rede que manipulava preços de criptomoedas para enganar investidores.

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Empresas envolvidas na criptofraude
Empresas de criptomoedas apanhadas na investigação do FBI.

A Polícia Judiciária anunciou esta terça-feira ter detido a pedido do FBI um cidadão estrangeiro em Cascais no âmbito de uma investigação com origem nos EUA sobre fraude no mercado das criptomoedas. Segundo o Procurador-Geral dos Estados Unidos em exercício para o Massachusetts, Joshua Levy, trata-se de Aleksei Andriunin, com dupla nacionalidade russa e portuguesa e fundador e CEO da Gotbit, uma empresa que funcionava como “market maker” ao serviço de empresas de criptomoedas. Na prática, a empresa tinha um algoritmo para simular compras e vendas dos tokens das empresas suas clientes, aumentando artificialmente o volume de transações para atrair investidores convencidos pela alta procura. Era assim, segundo a acusação, que a Gotbit vendia os seus serviços aos clientes, que incluíam as criptomoedas Saitama - em tempos avaliada em 7.500 milhões de dólares - e o Robo Inu. Outros “market makers” apanhados nesta operação foram a MyTrade MM e a CLS Global, bem como as empresas de criptomoedas VZZN e Lilian Finance.

Este esquema de “wash trading” - a compra e venda combinada de títulos ou tokens entre brokers e market makers ou nalguns casos com a mesma entidade a servir de comprador e vendedor, com o objetivo de aumentar o volume de transações e tornar esse produto financeiro mais “apetecível” aos restantes - da parte das empresas “market makers” era acompanhado por parte das empresas cripto do clássico golpe de “pump and dump”, promovendo a criptomoeda com a ilusão de existir um grande número de compradores, demonstrada pelo elevado volume de transações e incitando à compra de tokens com o preço a subir enquanto vendiam os seus tokens ao preço artificialmente elevado. Quando o preço volta a cair, são os investidores que ficam com o prejuízo.

“Esta investigação, a primeira do género, identificou numerosos autores de fraudes no sector das criptomoedas. Há muito que o "wash trading" é proibido nos mercados financeiros e as criptomoedas não são exceção. Trata-se de casos em que uma tecnologia inovadora - a criptomoeda - se juntou a um esquema centenário - o "pump and dump". A mensagem de hoje é: se fizer declarações falsas para enganar os investidores, isso é fraude. Ponto final. O nosso Gabinete irá perseguir agressivamente a fraude, incluindo na indústria das criptomoedas”, afirmou Joshua Levy em comunicado.

A investigação acusa dezoito pessoas de crimes de fraude e manipulação do mercado, cinco dos quais se prepararam para um acordo com a justiça e três foram detidos nos últimos dias no Texas, Reino Unido e Portugal. Foram também apreendidos cerca de 25 milhões de dólares em criptomoedas e desativados “trading bots” responsáveis por compras e vendas simuladas de cerca de 60 criptomoedas no valor de muitos milhões de dólares.