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Peru: candidato de esquerda ganha por pouco, Fujimori fala em fraude

Pedro Castillo obteve 50,2% mas a candidata de direita procura impugnar centenas de milhares de votos. Ao mesmo tempo, o Ministério Público pede prisão preventiva para Keiko Fujimori por violar a liberdade condicional depois de ter sido acusada de lavagem de dinheiro, crime organizado, obstrução de justiça e falso testemunho.
Pedro Castillo num comício eleitoral. Fonte: Twitter do próprio.
Pedro Castillo num comício eleitoral. Fonte: Twitter do próprio.

Com a totalidade das atas eleitorais já processadas, a ONPE, Oficina Nacional de Processos Eleitorais do Peru, ainda não procedeu à proclamação oficial de um vencedor na segunda volta das eleições presidenciais do país. Falta rever várias impugnações de atas e pedidos de anulação.

Nestas eleições disputadas até ao último momento, foi Pedro Castillo quem acabou na frente com uma diferença de apenas cerca de 70 mil votos. O professor e sindicalista obteve 50,2% dos votos contra 49,8% de Keiko Fujimori, candidata de direita.

Há 150 mil votos por decretar oficialmente devido a pedidos de impugnação de atas. Estes já foram contados pela ONPE e, fosse qual fosse a decisão da entidade eleitoral do país, o resultado na mudaria. Por isso, a candidatura de direita anunciou que tentará anular outros 200 mil votos nas zonas mais afetas à candidatura de Castillo.

Do lado da candidatura do Peru Livre, há apelos à calma. Pedro Castillo ainda não reagiu oficialmente mas na sua conta de Twitter partilha as felicitações pela vitória que lhe vão chegando de outros pontos da América Latina entre as quais se contam as do presidente argentino Alberto Fernández, do ex-presidente brasileiro Lula da Silva, do ex-presidente boliviano Evo Morales, entre outras. Na publicação que mantém em destaque, o sindicalista agradece “a quem continua a resistir nas ruas” e apela a que não se caia em “provocações de quem quer ver este país no caos. “Continuamos firmes e alegres nesta luta final que é todos os peruanos”.

Os apelos à calma e ao respeito do resultado das urnas têm sido constantes à esquerda. O que contrasta com a tensão que o fujimorismo pretende instalar. Depois de ter perdido a vantagem que lhe davam os resultados das primeiras mesas nos círculos urbanos que lhe eram mais favoráveis, Keiko e os seus apoiantes começaram a lançar o fantasma da “fraude eleitoral”. Alega-se a existência de mesas onde os membros das mesas teriam os mesmo apelidos, pressupondo-se que seriam da mesma família, apesar do sorteio ter sido realizado pela entidade eleitoral e não ter sido contestado no prazo devido, de outras em que as assinaturas dos membros teriam diferenças com os documentos eleitorais ou de algumas em que os votos foram quase todos para o adversário o que seria “impossível” e por isso esses resultados não deviam ser contabilizados.

A pressão política fica agora do lado da justiça. São os organismos eleitorais de cada região que devem decidir sobre estes pedidos, depois haverá a possibilidade de recurso ao órgão nacional e ainda é possível que os casos extravasem a justiça eleitoral e passem para outro tipo de tribunais.

Regresso à prisão à vista?

Keiko Fujimori tem muito mais a perder do que a mera eleição. Ganhar a presidência significaria para ela também atingir a imunidade presidencial face às acusações de lavagem de dinheiro, crime organizado, obstrução de justiça e falso testemunho de que é alvo. Segundo a Procuradoria teria recebido mais de 15 milhões de dólares para as campanhas eleitorais de 2011 e 2016, o que lhe pode custar uma pena de prisão até 30 anos e dez meses.

A candidata da direita esteve já várias vezes desde 2018 em prisão preventiva por este caso. Saiu em janeiro de 2020 mas arrisca para lá voltar em breve depois do Ministério Público ter voltado a pedir o regresso desta medida. Keiko violou publicamente a proibição de se encontrar com testemunhas do caso ao surgir numa conferência de imprensa ao lado de Miguel Torres Morales, advogado e testemunha no seu caso.

Vitória de Castillo representa travão ao espectro da direita corrupta

Numa nota sobre as eleições no Perú, o Secretariado Nacional do Bloco de Esquerda sublinha que "a vitória do professor e sindicalista Pedro Castillo nas eleições para presidente do Perú representa um travão ao espectro da direita corrupta e autoritária liderada pela candidata Keiko Fujimori".

"Pela primeira vez em muitos anos, um candidato do campo popular ganha as eleições presidenciais no Perú. O processo decorreu sem perturbação da participação cidadã, apesar das campanhas de dramatização mediática tentadas pela candidata da oligarquia económica e filha do ex-ditador Alberto Fujimori", lê-se no documento.

O Bloco saúda o povo peruano e faz votos para que "esta eleição abra caminho à democratização plena, a uma política económica solidária e a uma resposta urgente e humanista ao nível da saúde pública e da vacinação anti-covid 19".

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