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Fujimori, o liberal que esterilizava mulheres pobres à força
Liberalismo económico, desigualdade social e corrupção foram os ingredientes da governação autoritária de Alberto Fujimori, presidente do Peru entre 1990 e 2000. Mas da sua atuação política também fez parte uma campanha de esterilização forçada de mulheres, alegadamente para “reduzir a pobreza”.
O caso apenas chegou esta segunda-feira, mais de vinte anos depois, aos tribunais do seu país. Tinha sido várias vezes arquivado apesar dos testemunhos e da insistência de várias organizações de defesa dos direitos humanos.
Junto com ele no banco dos réus sentam-se os seus ex-ministros da Saúde, Eduard Yong, Marino Costa e Alejandro Aguinaga, o ex-diretor-geral de Saúde Ulisses Aguilar e mais outros altos funcionários do ministério. Fujimori encontra-se já a cumprir uma pena de prisão de 25 anos por dois assassinatos perpetrados pelos militares, foi condenado por corrupção e ainda voltará a tribunal no caso do assassinato de seis camponeses por grupos militares a seu mando.
A acusação diz que 18 mortes resultaram da política governamental de esterilização forçada concretizada sem condições sanitárias mínimas. E 1.301 mulheres testemunham ter sofrido sequelas físicas. As vítimas eram camponesas, pobres, índias da etnia quíchua. Poderão ser mais de 270.000.
Pablo Espinoza, o procurador responsável pelo caso, defendeu nesta audiência que "o Estado manifestou a intenção de esterilizar todos os pobres, porque não há vítimas de outras camadas sociais".
Sob o nome de Programa Nacional de Saúde Reprodutiva e Planificação Familiar, a partir de 1996, foi posto em marcha o dispositivo daquilo a que se chamou “Contraceção Cirúrgica Voluntária”. Por exemplo, Marino Costa assinou um documento em que fica provado que o governo queria realizar 150.000 laqueações de trompas só no ano de 1997. Havia metas de desempenho e o pessoal de saúde foi coagido a cumpri-las, assim como as mulheres que sofriam os procedimentos. Outras foram esterilizadas sem o seu conhecimento.
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