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Palestina, era uma vez um Estado
Este ano cumpre-se o cinquentenário da ocupação israelita na Cisjordânia (na Faixa de Gaza terminou em 2005) na sequência da Guerra dos Seis Dias. Uma ocupação sempre a esticar limites e com uma população de colonos a aumentar. Quase 600 mil colonos num território com cerca de 2,5 milhões de palestinianos. Na Cisjordânia, palestinianos e colonos vivem separados por muros, vedações e postos de controlo. Os colonatos têm estradas privadas que os ligam entre eles e a Israel, estão protegidos por perímetros de segurança, postos de controlo, fixos e móveis. Toda a margem fértil do Rio Jordão está ocupada por colonos e empresas israelitas. O exército israelita garante a ocupação.
Dizer agora que está em risco a “solução dois Estados” é uma constatação correcta, mas chega com muitos anos de atraso. O mapa que acompanha este texto ilustra como é impossível criar um Estado no território da Cisjordânia ocupada, transformada numa verdadeira manta de retalhos. Os territórios que pertencem aos palestinianos por acerto e resoluções das Nações Unidas, e também pelos Acordos de Oslo, pouco mais de metade estão, de facto, nas mãos da Autoridade Palestiniana.
Por estes dias, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas fez saber que a aceleração da colonização israelita é uma acção unilateral que constitui um obstáculo à solução “dois Estados” (ainda a 23 de Dezembro a ONU aprovou uma resolução a condenar a colonização – pela primeira vez sem o veto dos Estados Unidos); a líder da diplomacia europeia Federica Mogherini alertou esta semana para o perigo que a expansão dos colonatos israelitas significa para a “solução dois Estados”.
A tudo isto, e antes de tudo isto, Benjamin Netanyahu, Primeiro-Ministro de Israel, respondeu que “nós construímos e continuaremos a construir” e, logo que Donald Trump chegou à Casa Branca, não se coibiu de admitir que Israel está “perante uma oportunidade formidável para a segurança e para o futuro de Israel”. Longe vai o tempo em que o Presidente dos Estados Unidos avisou Netanyahu: “nem um tijolo, e isso inclui Jerusalém”, terá dito Obama. Foi o próprio Benjamin Netanyahu quem o revelou. Também é certo que o aviso não teve efeitos práticos.
No espaço de quatro dias após após a tomada de posse de Donald Trump, o Governo de Israel anunciou a construção de mais três mil habitações na Cisjordânia ocupada. Ao contrário do que era hábito, a administração norte-americana não condenou o anúncio da expansão da colonização.
Estava eu a terminar este texto e chegou a notícia: a Casa Branca considera que a construção ou expansão de colonatos talvez não ajude à paz, mas acrescenta que os colonatos não são um obstáculo à paz entre israelitas e palestinianos. Benjamin Netanyahu é recebido este mês em Washington.
Ao certo, dos Estados Unidos, o que se sabe é que Donald Trump prometeu transferir a embaixada norte-americana para Jerusalém. Ainda não o fez, mas o homem escolhido para embaixador, David Friedman, judeu conservador norte-americano faz parte (diz o jornal israelita Haaretz) de uma organização norte-americana que tem enviado milhões de dólares para um colonato (Beit El) a norte de Ramallah, o mesmo colonato que recebeu contribuições de Jared Kushner (também judeu, genro e agora conselheiro de Trump) e do próprio Donald Trump. Uma nota no final deste parágrafo, para evitar extrapolações abusivas: o que fica dito corresponde a factos e não é nada, rigorosamente nada, contra o povo judeu.
Do lado palestiniano chegou-nos a indignação. O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmood Abbas, avisou que a Organização de Libertação da Palestina (OLP) pode rever (entenda-se revogar) o reconhecimento do Estado de Israel; o número dois da OLP, Saeb Erekat, disse que a comunidade internacional deve pedir contas a Israel, imediatamente.
Dizer que é imprevisível o que pode resultar do que atrás fica descrito, parece-me o mais acertado. Ninguém duvida que os palestinianos não vão gostar. A chamada “comunidade internacional” e as suas instituições mais representativas vão continuar, de declaração em declaração, até que essas declarações se revelem bizarras face à situação concreta no terreno. Falta pouco.
Pinhal Novo, 3 de Fevereiro de 2017
José Manuel Rosendo
Artigo publicado no blog meumundominhaladeia.blogspot.pt
Comentários
Benjamin Nethanyiahu é o templo assombrado
Passados 50 anos da guerra dos seis dias, Israel continua a mandar em tudo como se os palestinianos não existissem. Muitos israelitas gostam de abusar da palavra coexistência, porém, na prática ela continua sendo apenas uma palavra, pois Benjamin Nethanyiahu continua sendo um monstro opressor. A maioria dos israelitas são pessoas boas e querem a paz, assim como a criação de um Estado Palestino, porque não concordam com essa segregação que sofrem os palestinianos todos os dias. Você já imaginou acordar todos dias sem liberdade de ir e vir dentro de seu próprio território? Será que Bibi Nethanyiahu não tem nenhuma sensibilidade para se colocar no lugar de um palestiniano? A impressão que passa é para Nethanyiahu essa é uma "guerrinha" só sua para legimitar seu poderio militar como se fosse um novo César do mundo moderno. E como se o diabo tivesse apoderado de sua alma e oferecido todo o poder e glória que um ser humano poderia almejar e ele tivesse aceitado sem pestanejar. O povo palestiniano vai continuar sofrendo na mão do seu algoz. Contudo, um dia a redenção chegará e Benjamin Nethanyiahu vai passar, assim como passaram e passarão todos os tiranos da história porque um corpo sem Deus é um corpo sem alma.
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