Depois da queda do governo de direita de Mark Rutte em julho passado, dividido sobre a questão dos refugiados, foram marcadas eleições legislativas nos Países Baixos para este dia 22 de novembro.
A campanha eleitoral voltou a ser marcada pela questão da imigração e pelos apelos ao endurecimento da lei. Para além disso, foi ainda tema forte a habitação. 86% dos habitantes do país acreditam que se está a viver uma crise da habitação, enquanto há 390.000 que procuram casa mas não encontram solução. Outros dois assuntos centrais foram as alterações climáticas e o sistema de saúde.
Nos últimos dias, as sondagens dão conta de um voto disperso entre os vários principais partidos, o que poderá significar um novo processo negocial difícil até que o próximo governo entre em funções no início do próximo ano. De acordo com a última delas, quatro partidos disputam taco a taco o primeiro lugar. O partido de Rutte, o conservador VVD, apresenta Dilan Yeşilgöz-Zegerius como candidata a primeira-ministra. É uma ex-refugiada turca que se propõe cortar com a imigração e a ex-ministra da Justiça que se fez conhecer pela oposição à “agenda woke” e às “teorias da conspiração”, para além de autora de uma campanha anti-crime.
Os trabalhistas, coligados com os verdes, apresentam o ex-comissário europeu do Ambiente, Frans Timmermans que se tem centrado na área do ambiente e em algumas declarações sobre medidas de defesa do Estado Social. A extrema-direita do Partido da Liberdade volta a candidatar Geert Wilders que oscila entre os temas habituais caros ao seu espaço político e uma tentativa de aparentar moderação, já com vista a entrar no próximo governo. E ooutsider da campanha é Pieter Omtzigt, que veio dos Democratas Cristãos pelos quais foi deputado durante 18 anos. Criou um novo partido centrista chamado “Novo Contrato Social” que quer fazer “política de forma diferente” e propõe alterações ao sistema político. Apesar de estar a perder fôlego na reta final, o seu papel de fiel da balança continua a ser visto como determinante. A imprensa diz que Omtzigt entraria num governo de governo apenas se Geert Wilders ficasse de fora.
A última sondagem conhecida aponta para um empate entre Timmermarns e Yeşilgöz-Zegerius, com ambas as candidaturas a eleger 27 deputados e um aumento significativo da votação para o principal partido da extrema-direita, que surge nas intenções de voto com apenas menos um deputado que os dois primeiros. A descer quatro lugares nesta sondagem estava Omtzigt, que conquistaria 21.
Esta segunda-feira à noite, decorreu o último debate eleitoral, que para além destes incluiu ainda o Movimento Cidadão-Agricultor de Caroline van der Plas e partido liberal D66 de Rob Jetten, num clima de interrupções constantes entre os candidatos. Por exemplo, Yeşilgöz-Zegerius disparava contra Timmermans sobre os custos dos planos sociais e climáticos, com este a pedir responsabilização pelos últimos 13 anos de governo da direita, nomeadamente pelo escândalo causado pelos organismos oficiais terem classificado falsamente como fraudulentos cerca de 20.000 de pedidos de benefícios sociais à infância, muitos com base na sua etnia, pressionando as famílias para devolver todo o dinheiro recebido. O trabalhista acusa ainda a candidata da direita que pode vir a tornar-se a primeira mulher a chefiar um executivo no país de se preparar para abrir as portas do governo para a extrema-direita, o que ela aliás já tinha confirmado em declarações ao De Telegraaf, e aproveita a subida do Partido da Liberdade nas sondagens para pedir a concentração de votos à esquerda na sua candidatura.