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Pacenses manifestam-se contra "a água mais cara do país"

Centenas de pessoas manifestaram-se em Paços de Ferreira contra o resultado da privatização da água, que pôs os munícipes a sofrer sucessivos aumentos para pagar a taxa de rentabilidade garantida de 13% oferecida pela Câmara à empresa AGS, do grupo Somague.
A capital do móvel é também a capital da água mais cara do país. Foto Ben Sutherland/Flickr

“Estamos aqui porque acreditamos que há uma luta que temos de vencer. Queremos água e saneamento a preços justos, não a qualquer preço”, afirmou Humberto Bruto, fundador do movimento M6N e atual vereador do PS. “Estamos aqui com o povo, contra uma empresa que nos quer escravizar, que quer controlar a gestão da água tornando-a muito cara, obtendo com isso milhões de euros de lucros à nossa custa”, acrescentou, citado pela Lusa.

“Um dia alguém vai ter de responder neste concelho sobre o porquê desta privatização. Alguém vai ter de responder em tribunal sobre o que fizeram à população de Paços de Ferreira e porque é que nós pagamos a água mais cara de Portugal”, prosseguiu Humberto Bruto aos microfones do protesto, após vários populares terem tomado a palavra para mostrarem as sus faturas da água, algumas acima dos mil euros.

“Esta parceria público-privada entre a câmara e a AGS ficará conhecida como um dos negócios mais escandalosos de Portugal”, concluiu, aplaudido pelos manifestantes que empunharam cartazes onde se podia, ler frases como “Temos a água mais cara de Portugal. Lucros de milhões. Porquê?” ou "Água mais cara de Portugal. Obrigado Pedro Pinto", numa referência ao presidente da Câmara.

Em setembro, uma análise da entidade reguladora (ERSAR) confirmou que os munícipes de Paços de Ferreira pagaram 209,04 euros em 2011 pela água consumida, constituindo a fatura mais elevada do país. “As pessoas estão revoltadas. Em Paços de Ferreira não se justifica. Eu sinto-me lesado. Nós pagamos a água mais cara do país”, afirmou Manuel Lopes, um dos manifestantes.

Dois escândalos, a mesma empresa e o mesmo partido

A Somague, detentora da AGS, também é proprietária da Água de Barcelos S.A, protagonista de mais um negócio escandaloso de delapidação do dinheiro e da água pública. Em Barcelos, o protocolo assinado com a Câmara, também presidida pelo PSD, "prevê que se verifiquem consumos muito superiores aos normais (141 litros por pessoa, quando o consumo médio de água neste concelho é de cerca de 70 litros per capita)", dizia uma petição dos munícipes entregue na Assembleia da República. Com uma taxa de rentabilidade também acima dos 10%, a Câmara acabou condenada em tribunal a pagar 170 milhões de euros à Somague até ao fim do contrato de 30 anos, um valor que põe em causa a sustentabilidade financeira do município em mais uma parceria público-privada com lucro garantido para o privado.

As ligações entre a Somague e o PSD são conhecidas desde 2001, quando ambos se viram envolvidos no maior escândalo de financiamento partidário a merecer condenação nos tribunais. Uma fatura de serviços de campanha efetuados pela empresa de marketing e publicidade Novodesign para o PSD acabou por ser paga pela empresa de construção civil e o financiamento encapotado foi descoberto por uma inspeção tributária, que denunciou o caso. A empresa foi multada em 600 mil euros e tanto o presidente da Somague como Vieira de Castro, então secretário-geral adjunto do PSD, foram condenados a pagar 10 mil euros de multa.

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