Os serviços prisionais russos anunciaram a morte de Alexei Navalny, o advogado e político russo de 47 anos que cumpria pena de 30 anos por várias condenações de incitamento ao extremismo, criação de uma ONG ilegal, reabilitação do nazismo ou incitamento a atos perigosos por parte de menores. Acusações que Navalny sempre atribuiu a motivações políticas por parte do Kremlin e que lhe valeram um regime de detenção em condições particularmente duras numa prisão siberiana, impedindo o contacto com o mundo exterior e na prática silenciando-o.
Segundo o diário britânico Guardian, os serviços prisionais da região afirmaram em comunicado que Navalny "sentiu-se mal após um passeio e perdeu de imediato a consciência". Acrescenta que as manobras de reanimação "não tiveram resultados positivos" e que os paramédicos confirmaram a morte no local. Na véspera, o opositor russo apareceu por videochamada em tribunal num dos seus recursos judiciais, parecendo saudável e bem-disposto, queixando-se das multas que recebia enquanto estava preso e pedindo ao juiz que lhe mandasse dinheiro, "pois o meu está a acabar por causa das suas decisões".
O opositor russo foi preso em 2021 quando aterrou na Rússia vindo de Berlim, onde foi tratado a uma tentativa de envenenamento por parte dos serviços secretos russos. Em seguida, os seus colaboradores publicaram um vídeo sobre as fortunas e os palácios de Putin e outros altos quadros do regime. O objetivo era o de criar uma crise política, com protestos de rua marcados para dias depois e que tiveram alguma expressão em grandes cidades, e também potenciar a tática do "voto inteligente" nas eleições legislativas, concentrando os votos no candidato da oposição melhor colocado em cada círculo eleitoral.
A denúncia da corrupção do regime, através dos seus canais nas redes sociais, foi o ponto forte da oposição de Navalny na década passada, transformando-o na figura de referência da oposição a Vladimir Putin.
Várias vezes detido por envolvimento em protestos contra o governo, durante uma dessas detenções em 2019, foi transferido da prisão para o hospital após suspeita de envenenamento. Os médicos deram-lhe alta no dia seguinte, falando de um ataque alérgico agudo. Em 2017, sofreu queimaduras num olho após ser atingido com um líquido antisséptico à porta do seu escritório.
O momento alto da seu participação eleitoral aconteceu em 2013, quando obteve 27% dos votos na eleição municipal em Moscovo, um resultado contestado pela oposição.
Antes de se tornar conhecido em toda a Rússia pelas suas denúncias de corrupção, o percurso político de Navalny passou pelo partido liberal Yabloko, mas também por ligações ao movimento dos ultranacionalistas russos, chegando a participar nas suas marchas contra os imigrantes e a apoiar atos de violência racista protagonizados pela extrema-direita em Moscovo.