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Ocupação estudantil prossegue em várias escolas de Lisboa

As ocupações iniciadas na segunda-feira prosseguem durante a semana, com os estudantes a organizarem iniciativas de divulgação e debate sobre a necessidade de pôr fim ao uso dos combustíveis fósseis e apostar no investimento para uma transição energética justa.
Na Escola António Arroio, cerca de 60 estudantes pernoitaram na escola após um dia de agitação que juntou mais de 200 participantes numa assembleia de estudantes. Também na Escola Secundária Camões, mais de 60 estudantes pernoitaram no ginásio após um dia com palestras e concertos. Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, um professor juntou-se a ocupação para fazer uma sessão sobre o Antropoceno e a Crise Climática. Também houve tempo para um workhop e um concerto, além de negociações com a direção da aculdade que permitiu a 15 pessoas pernoitarem nas instalações. Na Faculdade de Ciências foi montada uma exposição de Ciência Climática e os estudantes querem abrir uma cantina social vegana como alternativa à cantina universitária. No Instituto Superior Técnico há tendas montadas após uma vigília no pavilhão de civil, onde alguns estudantes passaram a noite.
Ocupação na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.
Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas falámos com Raquel Alcobia, estudante de Antropologia e que está na organização desta ocupação. Além das reivindicações comuns a todas estas ocupações - fim do fóssil até 2030 com transição justa e demissão de Costa e Silva, "que diz estar disposto a ouvir petrolíferas para possíveis contratos" - há também reinvindicações específicas relacionadas com a luta estudantil: "fim à propina, habitação acessível, contra o aumento do preço do prato social".
"Outro objetivo passa por criar aqui um espaço de novas ideias, recolher novas sugestões para um futuro com soluções para o problema climático e criar um espaço educativo que dê foco à justiça climática", defende Raquel Alcobia, pois "a faculdade deve preparar a geração seguinte para a mudança económica que as alterações climáticas vão provocar". E diz ser "um pouco contraditório estarmos numa faculdade, que serve para nos prepararmos para o futuro, a equipar-nos para um futuro que não está garantido, a começar por termos um planeta para morar. A educação tem de ser modificada para darmos resposta a esta crise iminente, com unidades curriculares direcionadas para a justiça climática, palestras, dias ou semanas do clima que de facto nos preparem para as questões com as quais teremos de lidar no futuro".
Quanto à perspetiva de um mundo pós-fóssil, Raquel acredita que passará por mudanças inevitáveis no sistema de mobilidade, pela "aposta na ferrovia e transportes públicos elétricos, e que os investimentos se façam nesse sentido". E, claro, com "uma transição justa dos empregos da indústria fóssil para empregos relacionados com a sustentabilidade", no caso português aproveitando o plano delineado pelo projeto Empregos para o Clima para essa transição justa.
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
O esquerda.net falou também com ativistas na Faculdade de Letras, onde a escadaria esteve ocupada durante a segunda-feira, mas os seguranças privados usaram força excessiva para impedir que os estudantes ali penoitassem. Beatriz, Nemo e André, com idades entre os 18 e os 21 anos, contaram que "o End Fossil: Occupy! é um movimento internacional que apela a ativistas em todo o mundo a ocuparem as suas escolas e universidades. Neste momento há ocupações nos EUA, na América Latina e em África, aqui na Europa na Espanha e Alemanha".
Em Portugal, a reivindicação principal é "o fim ao até 2030 e a demissão do atual ministro da Economia e do Mar e ex-CEO da petrolífera Partex Oil and Gas, António Costa e Silva", acrescentaram.
Quanto as alternativas energéticas que propõem caso alcancem o objetivo do fim do recurso a combustíveis fósseis, estes ativistas respondem que "queremos uma transição justa e um investimento para um novo sistema energético renovável".
"Atravessamos neste momento uma crise energética exatamente porque estamos numa economia fóssil descentralizada. E há uma crise num dos pontos agora com a guerra. A Rússia é dos maiores exportadores de fóssil para a Europa e isso causa uma enorme crise em toda a Europa", acrescentaram, antes de concluíre que "precisamos de um investimento em energias renováveis descentralizadas com transição justa dos trabalhadores para novas empresas renováveis e temos um estudo - Empregos para o Clima - que mostra como é viável essa transição justa".
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