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Observatório alerta para riscos financeiros do fim das moratórias

Num cenário de recuperação económica apenas parcial, o fim das moratórias às famílias e empresas em setembro acarreta riscos elevados e vai comprometer o setor bancário, alerta o Observatório sobre Crises e Alternativas.
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Foto de Pedro Gomes de Almeida.

No último “Barómetro das Crises” divulgado esta quarta-feira, o Observatório sobre Crises e Alternativas do Centro de Estudos Sociais alerta que “o fim das moratórias de crédito em setembro próximo, em simultâneo com o término de outras medidas extraordinárias de mitigação dos efeitos da pandemia, acarreta riscos elevados”.

O relatório elaborado por Catarina Frade, Ana Cordeiro Santos e Nuno Teles diz que no final de abril o montante total de empréstimos abrangidos por moratória era de cerca de 38 mil milhões de euros, correspondendo a cerca de 31% do montante total dos empréstimos bancários, com os empréstimos a empresas a representarem cerca de 61% e a famílias 39% do total destes empréstimos, num total de cerca de 282 mil famílias e 53 mil empresas. Estas moratórias permitiram proteger temporariamente famílias e empresas e têm em Portugal uma dimensão bem maior do que na generalidade dos países europeus.

Como quem mais recorreu às moratórias foram os setores mais afetados pela pandemia, “designadamente empresas e trabalhadores do setor do alojamento e restauração”, a sua recuperação financeira dependerá da recuperação da atividade económica desses setores, “o que torna a economia de novo dependente de um setor com reduzido valor acrescentado assente em trabalho precário e salários baixos”, referem.

Mais do que a gravidade da doença, foi a crescente dependência do turismo que levou Portugal a registar a maior quebra no PIB (7.6%) na história de democracia. E foi graças ao esforço financeiro do Estado, como o apoio aos lay-off, que se evitou uma dinâmica recessiva de falências e despedimentos no nosso país, prossegue o relatório, apesar de o esforço orçamental na resposta à pandemia ter sido “dos mais modestos da zona euro”.

Com o fim das moratórias previsto para setembro e “partindo de uma posição  financeira já de si frágil, empresas e famílias acumulam um maior volume de dívida que, num cenário realista de recuperação apenas parcial da atividade económica, não será fácil pagar, e que compromete o setor bancário nacional”.

Para estes economistas, tendo em conta o peso das moratórias no caso português, o seu levantamento “poderá ser precoce” e levar ao “aumento abrupto das insolvências e do desemprego que se queria evitar, comprometendo a retoma económica”. O previsível aumento dos empréstimos vencidos a partir de setembro terá impacto no sistema financeiro nacional, o que já foi reconhecido pelas próprias instituições bancárias. Apesar de, ao contrário da crise do euro, não enfrentarem problemas de liquidez e apresentarem bons rácios de crédito em relação aos depósitos, bem como financiamento facilitado pelo BCE, “a solvabilidade dos bancos portugueses pode estar comprometida por via do endividamento das empresas e famílias, prenunciando uma nova crise bancária no nosso país”, prevê o Barómetro das Crises. O Novo Banco é o que tem maior percentagem dos créditos em moratória (27%), seguindo-se o BPI (22%), Santander (20%), BCP (18%) e Caixa (12%). No caso dos empréstimos às empresas com garantia pública, também devem ser consideradas eventuais perdas para os bancos e o Estado, “sobretudo num cenário de uma retirada abrupta das medidas de apoio”, aponta o relatório.

O efeito do fim das moratórias e o pagamento da dívida privada dependerá da recuperação económica e a forte dependência do turismo fará com que essa recuperação seja “na melhor das hipóteses, gradual nas atuais circunstâncias sanitárias”. Os economistas sugerem que se deverá evitar o incumprimento dos empréstimos à habitação referentes à residência permanente do agregado familiar, privilegiando-se, também neste caso, a renegociação da dívida”.

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