Espanha

O Vox queria usar menores migrantes para fazer propaganda, acabou dividido

12 de julho 2024 - 19:25

A extrema-direita espanhola rompeu os acordos de governo regionais com o PP depois de um acordo para distribuir pelo país cerca de 300 menores que estavam nas Canárias.

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Comité Executivo do Vox.
Comité Executivo do Vox. Imagem do partido.

Santiago Abascal lançou em conferência de imprensa a ordem para que os membros do partido de extrema-direita Vox que estão em governos regionais com o Partido Popular abandonem os seus lugares e retirem o apoio parlamentar aos executivos. A decisão afeta os governo de Aragão, Castela e Leão, Estremadura, Comunidade Valenciana e Múrcia.

A decisão foi justificada pela decisão de dividir um grupo de menores migrantes não acompanhados que estão nas Canárias pelas diferentes comunidades autónomas. O dirigente da extrema-direita alega que “não são crianças nem menores”, agitando mais uma vez o boato da “violência que se vive perto dos centros de menores”. Para ele, o sucedido é uma “agressão de Feijóo”, o líder do maior partido da direita espanhola, que “continua a invasão da imigração ilegal e de menas”, uma abreviatura para menores não acompanhados. Numa intervenção sem direito a perguntas, acrescentou ainda que esta era “uma das decisões mais importantes da história política do Vox.”

O ato, pensado para mostrar intransigência face à imigração e marcar diferenças face ao resto da direita, não terá corrido como esperado enfrentando resistências e demissões no interior do partido. Aliás, escreve o El Diário, a própria conferência de imprensa teve de ser atrasada uma hora e meia “devido ao forte debate interno que aconteceu durante a reunião”. O jornal acrescenta que “em alguns parlamentos regionais esta quinta-feira já se sentia o mal-estar de alguns conselheiros que ao deixarem os seus cargos não contam com outros rendimentos dado que o regime de incompatibilidades no Vox é estrito. Em conversas informais com os jornalistas, a maioria confessava que estavam contentes a governar com o PP”.

Depois, o elemento que estava no governo da Estremadura, Ignacio Higuero, anunciou a demissão do partido, dizendo que este “não representa o meu espírito de luta”.

Em Castela e Leão, os conselheiros do Vox no governo fizeram saber pelos jornais que a decisão de saída era “um erro”. Juan García-Gallardo, vice-presidente deste governo regional anunciou a sua demissão. Mas os outros elementos, Gonzalo Santonja, responsável pela pasta da Cultura e Turismo, Gerardo Dueñas, da Agricultura, e Mariano Veganzones, do Emprego, Indústria e Comércio, resistiram à ordem de Abascal. Santoja acabou mesmo por ficar no governo com a confiança PP e os outros dois só não o ficaram porque foram demitidos pelo presidente regional que aproveitou para remodelar o executivo. De qualquer forma, acabaram por sair do Vox.

Já no governo valenciano, foi o Partido Popular a antecipar-se à demissão e anunciou a expulsão dos três elementos do Vox do governo autonómico ainda antes que eles dissessem que sairiam.

Vários destes governos terão agora dificuldades em subsistir por passarem a ser minoritários. Alguns, pedem ajuda ao PSOE para se manter, outros esperam ainda que o Vox, apesar de estar na oposição, vá permitindo aprovar os diplomas essenciais e o orçamento.

O líder do PP comentou sobre isto que os elementos da extrema-direita “não mediram bem, travaram rápido demais e descarrilaram”, o que foi um “movimento disparatado”. Concede que os seis governos regionais vão ter agora “dificuldades acrescidas” e lança achas na fogueira das divisões internas ao dizer que “ninguém em Espanha duvida que quem obrigou as pessoas que faziam parte dos governos das comunidades autónomas foi o Vox nacional”. Aos membros locais da extrema-direita deixa a mensagem para que “não impeçam a governabilidade”.

Mas Feijóo não está disposto a perder espaço no discurso anti-imigração, tendo depois forçado a nota e dirigido-se “ao conjunto dos espanhóis que estão vivendo provavelmente uma das piores crises migratórias que está a sofrer ou que já sofreu Espanha”, aproveitando para distorcer números sobre imigração para culpar o governo de um aumento de “mais de 300%” na chegada de migrantes nos primeiros meses do ano”. Os números oficiais desmentem-no.

Por seu lado, o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, celebra, manifestando “alegria” e dizendo ser “um grande dia para Espanha” que dica “um país melhor”. A partir de Washington lança à direita o repto de “romper com as políticas que aprovou com o Vox”, sendo isso “a prova do algodão”.