O Bloco de Esquerda organizou este sábado um almoço em Viana do Castelo, com intervenções da candidata pelo distrito às legislativas de 10 de março, Adriana Temporão, e do dirigente concelhio Luís Louro, na cidade onde o Chega realiza este fim de semana mais um Congresso para tentar sanar as ilegalidades detetadas pelo Tribunal Constitucional aos seus estatutos nos congressos anteriores. "Não há grande memória de uma coisa assim: um partido que com um congresso anulado pelo Tribunal Constitucional e que ao mesmo tempo precisa de mais três para aprovar uns estatutos que um jurista mediano devia ter acertado à primeira. Mas é assim a extrema-direita", apontou Mariana Mortágua, depois de ter saudado a luta dos trabalhadores dos estaleiros de Viana do Castelo e em especial "aos que nunca desistiram e que continuam à espera de justiça", após a direita ter privatizado os estaleiros para os entregar "à negociata que deu muito a ganhar à custa de quem trabalha".
Num discurso que teve a extrema-direita como alvo, a coordenadora bloquista lembrou o passado de Ventura enquanto trabalhador da Autoridade Tributária "que passa a consultor fiscal num escritório de vistos gold", de "passista convicto e adepto da austeridade que cortou salários e pensões", autarca em Loures e próximo de Carlos Eduardo Reis e Sérgio Azevedo, "que estão no centro da operação Tutti Frutti" e que depois sai do PSD para aplicar os ensinamentos "da política suja do vale-tudo" protagonizada por Trump e Bolsonaro, mas também por Marine Le Pen e Viktor Órban, próximos de Putin. "Em Portugal, ninguém lhes ouviu uma palavra contra os oligarcas russos. Na verdade, o Dr. Ventura protege quem protege os oligarcas russos instalados em Cascais", prosseguiu, recordando as palavras do líder do Chega esta semana no Parlamento em defesa de Marco Galinha, "sócio de um oligarca, e os outros responsáveis pelo gangsterismo económico no Grupo Global Media".
"A extrema-direita é isto mesmo, desprezo pela democracia e acima de tudo, pelo povo. Só querem saber de si, do seu poder, e de proteger os seus amigos", apontou Mariana Mortágua, criticando também a "corrida de gente da IL, do CDS e do PSD para conseguirem à última da hora assegurar o seu lugar nas listas eleitorais" do Chega. "Entusiasmados e convertidos, dispostos a enfiar a Constituição no balde do lixo, a exclamar que “antigamente é que era”, e a colocarem a fotografia do Dr Ventura na parede do seu gabinete, qual Estaline, como já acontece em todos as salas do Chega no Parlamento. E que bom Estaline dá o Dr. Ventura", ironizou.
"O Chega não é um partido, é um balcão de atendimento e desconto de cheques. E quando o Dr Ventura recebe os cheques de empresários, que o mandam rasgar as vestes pelos seus interesses, ele cumpre obedientemente", prosseguiu a coordenadora do Bloco, lembrando as posições do líder da extrema-direita em consonância com as do grupo Barraqueiro sobre a TAP, as da família Champalimaud sobre os CTT, as do grupo Mello sobre o negócio da saúde privada ou as dos antigos responsáveis pelo ramo imobiliário do BES em defesa dos vistos gold.
"Tudo pelos donos do dinheiro, é a divisa do dr. Ventura. Força sistema, basta pagarem e não haverá milionário que não seja protegido pelo partido dos interesses. Basta um cheque e a extrema-direita dança a música que lhe tocarem", avisou a coordenadora bloquista.
Ao mesmo tempo que protege os que mais têm, Ventura "diz aos brancos pobres que o problema é dos negros pobres, e aos negros pobres que o problema são os imigrantes, aos imigrantes do Brasil que o problema são os africanos, e aos africanos que os culpados são os muçulmanos ou os ciganos". E fá-lo à espera que "ninguém note que o Dr. Ventura só quer mesmo saber é dos ricos, é para eles que trabalha e são eles que lhes pagam as campanhas sujas em que se entretém a dividir o país".
Mas se "o Chega é o alento dos ricos e poderosos", Mariana Mortágua assegura que o Bloco de Esquerda continuará a ser "a esperança de quem não se verga aos interesses nem atraiçoa o povo e a sua história. Jogamos limpo, falamos claro, e não nos vendemos por cheque nenhum", rematou.