Durante e após a pandemia, a presidente do Governo de Madrid foi duramente criticada pela sua deliberada inação que resultou numa autêntica mortandade nos lares de idosos da região, sob a sua tutela. Isabel Diaz Ayuso sempre se afirmou opositora das medidas de confinamento, enquanto ao mesmo tempo o seu círculo familiar próximo enriquecia com os negócios da venda de máscaras protetoras ao seu Governo. Primeiro foi a compra de 250 mil máscaras em abril de 2020, compradas por uma empresa de um amigo de infância de Ayuso por 540 mil euros a uma empresa chinesa e revendida à Comunidade de Madrid por mais de um milhão e meio de euros. No negócio, o irmão da presidente, Tomás Diaz Ayuso, recebeu uma comissão de 234 mil euros. O caso foi denunciado pelo próprio presidente do PP da altura, Pablo Casado, o que resultou numa revolta interna que levou à sua demissão, sendo substituído por Alberto Feijóo.
Agora há um novo escândalo a envolver um negócio com máscaras e o protagonista é o companheiro de Ayuso, Alberto González Amador, que depois de ter cobrado uma comissão de quase dois milhões de euros num negócio de venda de máscaras, fabricou com a ajuda de terceiros várias faturas falsas para inventar despesas de 1,7 milhões e assim tentar escapar ao pagamento de impostos. Dois anos de investigação da autoridade tributária espanhola permitiram concluir que a fraude fiscal ascendia a 350 mil euros, mas antes que o processo avançasse para julgamento Amador confessou os crimes fiscais em troca de poupar a companheira a esse escândalo.
A máquina de comunicação da líder do PP madrileno começou a funcionar mal o caso veio a público. Primeiro argumentando que na altura o casal não estava junto, o que foi prontamente desmentido pelas fotos das revistas de famosos tiradas em 2021. A seguir Ayuso apresentou-se a si e ao companheiro como vítimas de perseguição da máquina fiscal e do próprio governo, defendendo que é o fisco que deve 600 mil euros ao seu companheiro e não o contrário. Declarações feitas mais de um mês após Alberto Amador ter confessado por escrito a fraude que cometeu. Por fim, o círculo próximo da presidente fez circular a versão de que teria sido a Procuradoria a oferecer o acordo a Alberto Amador para evitar o julgamento, com vários jornais da direita espanhola a publicarem o email enviado ao advogado de Amador. Na verdade, esse email foi o último de uma troca de correspondência iniciada pelo advogado no dia da confissão do comissionista das máscaras.
À fraude fiscal do companheiro, juntou-se o caso do duplex de luxo onde vivem os dois no bairro madrileno de Chamberí. Ayuso começou por dizer que "não é um andar de um milhão. Não é meu. Está hipotecado, Está registado no notário. Está legal." Na verdade, não se trata de um andar, mas sim de dois andares com área total de 387 metros quadrados e lugares de garagem. E os dois somados valem provavelmente mais de dois milhões de euros, segundo o El Diario. São os dois últimos andares do prédio e só o andar de baixo está hipotecado por 500 mil euros, uma parte do valor total. Quanto ao andar de cima, foi comprado pouco antes de Ayuso se mudar para lá e está registado em nome de uma empresa administrada pelo advogado do companheiro da presidente.
O escândalo subiu de tom nas redes sociais quando se soube que o dinheiro das comissões das máscaras serviu para o companheiro de Ayuso, além do duplex de luxo, comprar um Maserati. E segundo o El Diario, deixou por pagar quer o imposto de circulação quer as multas de trânsito que entretanto colecionou Alberto Amador, sempre apresentado pelos meios de comunicação como um "técnico de saúde". Noutra notícia do El Diario, ficou a saber-se que Amador teve até 2022, a poucos dias de a abertura da investigação do fisco às faturas falsas, uma empresa registada no Panamá, criada por Fernando Camino, um dos administradores do grupo de saúde privado Quirón, ao qual faturava a maior parte das suas receitas. O grupo Quirón é responsável pela gestão de três hospitais da rede de saúde da Comunidade de Madrid e foi um dos mais ativos durante a pandemia nos rastreios e testes. A atual detentora da pasta da Saúde no executivo de Ayuso, Fatima Matute, veio dos quadros daquela empresa.
As reações políticas não se fizeram esperar no Parlamento da Comunidade de Madrid, com a oposição, liderada pelo PSOE e o Más Madrid, a pedir esta quinta-feira a demissão da chefe do governo. Já o havia feito na véspera o primeiro-ministro Pedro Sánchez no debate parlamentar com o líder da oposição e do PP, Alberto Feijóo, quando este atacou o governo a propósito do caso Koldo, um esquema de corrupção sob investigação também a propósito de contratos de compra de máscaras durante a pandemia e que levou à saída do atual deputado e antigo ministro José Luís Ábalos do grupo parlamentar socialista. Neste debate, Sánchez disse que o seu partido sabe assumir as responsabilidades políticas e exigiu a Feijóo que afastasse Ayuso, “mesmo que isso lhe custe o cargo como a Casado”.