A uma semana das eleições regionais dos Açores, Mariana Mortágua participou este domingo num almoço/comício com António Lima e o mandatário da candidatura do Bloco, José Cascalho, no restaurante Cais da Sardinha, em Ponta Delgada.
De acordo com a coordenadora do Bloco, “os Açores são o exemplo dos problemas que surgem quando se vota na direita para responder ao PS”.
“Se o país não gostou de dois anos de maioria absoluta, os açoreanos foram governados pelo PS durante duas décadas. Com todos os vícios da mesma arrogância e a mesma promiscuidade que a República testemunhou também, afirmou Mariana Mortágua.
Conforme enfatizou a líder bloquista, “o problema foi que muita gente acreditou que a única forma de terminar esse ciclo o PS era votar na oposição de direita e o resultado dessa opção está hoje à vista”. “Votar na direita é sempre a forma errada de evitar a má política”, frisou Mariana Mortágua.
E o resultado está à vista, “a direita juntou-se para satisfazer as suas velhas clientelas e fê-lo à conta do ataque aos mais desprotegidos”, com as desigualdades a agravarem-se na região.
“A direita sabe abrir lugares e foi assim que já conseguiu bater o record do número de nomeações políticas, que nem o PS tinha conseguido alcançar em maioria absoluta. Quem ouve a extrema-direita falar de tachos, devia vir aos Açores vê-la dar o voto a esta política. A direita quis governar para os interesses, e conseguiu. Foi, aliás, uma proeza, manter as clientelas da maioria absoluta do PS e, ao mesmo tempo, criar subsidiodependentes de luxo”, afirmou a coordenadora do Bloco.
Mariana Mortágua deu o exemplo do Grupo Bensaúde que, apesar da denúncia do Bloco de Esquerda, “continua a receber a renda de 22 milhões de euros que o PS lhe garantiu e que a direita pagou, pela compra exclusiva de fuelóleo acima do preço”. Ou de “quem, sendo membro do governo da direita, fez ajustes direitos com esse mesmo governo no valor de meio milhão de euros”.
"É preciso reconhecer: quanto a favores e negócios com os interesses económicos, a direita açoreana aprendeu rápido com o exemplo da direita que governa na Madeira”, sublinhou a dirigente bloquista.
“Direita nos Açores engalfinha-se numa luta para ir a votos”
Apontando que, agora, a direita nos Açores “engalfinha-se numa luta para ir a votos” e “redistribuir lugares e mais favores” Mariana Mortágua avançou que não não devem existir dúvidas de que, “pelo poder, estariam dispostos a entenderem-se todos de novo, uns com os outros”.
“O PSD nunca faz alianças com o Chega, exceto quando precisa para compor maioria. A IL nunca entra em coligações com a extrema direita, exceto quando o PSD a obriga a entrar numa. Já o PAN, faz acordos com qualquer um, seja ao lado do Chega com o PSD de Bolieiro, seja com a direita madeirense. Ainda tentou evitar as eleições em maio e salvar a sua coligação afastando Albuquerque. É uma triste cena a que hoje se vive nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira”, referiu a coordenadora do Bloco.
Mariana Mortágua foi perentória ao afirmar que “a direita tem de ser afastada do governo, seja nos Açores, seja na Madeira, seja do país”. E é isso que “faremos em todas estas eleições: colocar a direita no seu lugar, que é na oposição, e ganhar força para uma viragem à esquerda que só o reforço do Bloco que a pode garantir”, vincou.
Nos “grandes negócios, a direita e o PS estão sempre juntos”
Na sua intervenção, António Lima lembrou que “sair é o destino de tanta gente, porque os Açores não lhes garantem um futuro”. “Outros ficam, mesmo nas circunstâncias difíceis, e levam esta região aos ombros. Mas o seu trabalho é quase sempre pouco ou nada reconhecido”, continuou.
“Os Açores reais para uma grande parte da população”, cujo salário não dá para pagar a casa e que espera meses por uma consulta, são, de acordo com o coordenador do Bloco de Esquerda Açores, uma “opção política”.
Foi uma opção “de governos do PSD, do PS e do atual governo da coligação AD”, que decidiram que os Açores se devia especializar em “ser uma região em que quem trabalha fica com as migalhas e as elites de sempre com os lucros”.
E “os mesmos que mantiveram e desenvolveram esta economia” não farão diferente: “A direita só aprofundará estes Açores cinzentos. E o PS sozinho ou aliado à direita, fará o que sempre fez: aplicará o programa da direita”, alertou António Lima.
O dirigente bloquista lembrou os “grandes negócios” em que “a direita e o PS estão sempre juntos”, desde a privatização, pelo PS, de parte da EDA para entregar todos os anos milhões em dividendos ao grupo Bensaúde e à EDP e ainda lhes garantir rendas excessivas, ao pagamento de 15 milhões de euros em subsídios públicos para construir um hospital privado em São Miguel que agora foi parar às mãos da CUF, ou à tentativa de privatização da SATA, deixando os Açores e a economia açoreana “à mercê dos humores do mercado”.
O passo seguinte “desta política que retira futuro aos Açores é entregar cada vez mais do Serviço Regional de Saúde a privados”, com o social democrata José Manuel Bolieiro a “anunciar a entrega do serviço de diálise em São Miguel a uma clínica privada que ainda nem existe”.
António Lima frisou que “não basta mudar de governo, é preciso mesmo mudar de política”, e que o voto que garante mudança é o voto no Bloco de Esquerda.
José Cascalho, mandatário da candidatura, afirmou que “enfrentar os poderes instituídos é o ADN do Bloco de Esquerda” e que, votar neste partido, é essencial para “a transformação que queremos fazer por uma vida melhor, por uma vida boa”.