Trump deu o tom, Netanyahu seguiu imediatamente. O presidente norte-americano ameaçou que iria “abrir as portas do inferno” sobre Gaza se o Hamas não entregar, até sábado às 12 horas, “todos os reféns”. Afirmou que isto aconteceria “se não voltarem todos eles” e que “acabou-se o gotejar, isso de ir de dois em dois ou de três em três”.
Recorde-se que a organização palestiniana que controlava a Faixa de Gaza tinha anunciado que iria suspender a libertação de três israelitas “até novo aviso” em resposta ao sistemático incumprimento das forças sionistas do acordo.
Em causa está o regresso dos deslocados ao norte de Gaza, atrasado por Israel, e também o seu bloqueio da passagem de bens essenciais para a Faixa. Nos termos do acordo deviam entrar por dia 600 camiões de ajuda humanitária e distribuídas 200.000 tendas de campanha, entre outros bens, o que não está a acontecer.
E mesmo a parte do fim dos bombardeamentos não está a ser cumprida, com ataques a civis. As brigadas Qassam denunciavam esta segunda-feira que Gaza tinha sido atacada e pelo menos trinta pessoas foram mortas pelo exército israelita. Isto eleva a 92 mortes e mais de 800 feridos as vítimas de ataques diretos das forças sionistas só desde que o cessar-fogo começou a 19 de janeiro, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Para além disso, Trump continua a ameaçar os palestinianos de Gaza de limpeza étnica, uma expulsão permanente para concretizar os seus planos imobiliários no território, aquilo a que chama “a Riviera do Médio Oriente”. Também ameaça os países vizinhos, nomeadamente o Egito e a Jordânia, de corte de toda a ajuda se não aceitarem os palestinianos que venham a ser expulsos da sua terra.
Benjamin Netanyahu pegou nestas ameaças e declarou que se as condições estabelecidas por Trump não forem cumpridas “o cessar-fogo terminará e as Forças de Defesa de Israel retomarão os combates intensos até à vitória final sobre o Hamas”. O primeiro-ministro israelita, assim como o presidente norte-americano, não são totalmente claros sobre se estão a falar da libertação dos três israelitas que deveriam ser libertados no sábado ou se estão mesmo a falar de todos os que ainda estão detidos pelo Hamas.
Em comunicado, o Hamas, reafirma que “a porta continua aberta para que o intercâmbio aconteça segundo o previsto” este sábado. Esclarece que a sua advertência foi feita “intencionalmente cinco dias antes da entrega programada de prisioneiros, o que dá aos mediadores tempo suficiente para pressionar a ocupação para que cumpra as suas obrigações”.
Do lado israelita e norte-americano parece ter-se encontrado o pretexto para voltar aos ataques genocidas que já mataram confirmadamente mais de 48.000 pessoas desde outubro de 2023, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, 61,709 se contarmos com os desaparecidos sob os escombros e presumivelmente mortos.
O ministro da Defesa Israel Katz tratou de ordenar ao exército para se “preparar para todos os cenários” e reservistas estão a ser chamados para a possibilidade de regresso da ofensiva.
Entretanto, os ataques de Israel em larga escala continuam na Cisjordânia com ataques a cidades e campos de refugiados.