“Eles veem o partido [Chega] como uma plataforma mais vasta do que a do Portugal Hammerskins (PHS), onde podem passar mais despercebidos e espalhar com facilidade o ódio racial e teorias mais radicais. Ou seja, aproveitam-se de um mecanismo legal para potenciar a sua mensagem”, alertou um alto responsável que investiga o universo da extrema-direita, em declarações ao jornal Expresso.
De acordo com uma fonte da Polícia Judiciária (PJ), o movimento PHS encontra-se “encolhido, pusilânime, temerário e desmobilizado”, na sequência da operação de novembro de 2016 da unidade de contraterrorismo da PJ.
No âmbito desse processo, foram acusados 27 membros do PHS por crimes de tentativa de homicídio, discriminação racial e sexual ou ofensa à integridade física qualificada. No final de julho foi anunciado que o juiz Carlos Alexandre decidiu levar todos os neonazis a julgamento. Entre eles, há um guarda prisional e elementos já condenados no processo da morte de Alcindo Monteiro em 1995.
Fonte policial explicou ao Expresso que, “como mecanismo de defesa”, os membros do PHS “tornaram-se menos visíveis”. Mas advertiu que as conversas mantidas entre os neonazis em canais fechados estão a preocupar as autoridades: “Denota-se um discurso de muita violência, antissemita e anti-imigração de pessoas muito jovens. É um discurso de ódio que já não se via há algum tempo”.
Contactado pelo semanário, o gabinete de imprensa do Chega negou ter conhecimento da infiltração e frisou que “todos são bem-vindos desde que se convertam à mensagem do Chega”.
O caso dos Hammerskins não é inédito. No mês passado, uma investigação do jornal online Setenta e Quatro denunciou ligações do grupo de extrema-direita Proud Boys ao Chega. Essas mesmas ligações foram confirmadas ao Expresso por fonte policial. Na realidade, o semanário enfatiza que os magistrados com maior experiência na investigação deste tipo de criminalidade estão convencidos de que os principais grupos de extrema-direita se diluíram noutros legais, “com especial incidência no Chega”.
Chega debaixo dos holofotes... pelas piores razões
Entrámos no mês de agosto, a conhecida silly season, período do ano em que é expectável uma menor intensidade informativa nos media. Ainda assim, nos últimos dias, o Chega não conseguiu sair das luzes dos holofotes, pelas piores razões.
A 3 de agosto,o Expresso adiantou que o Ministério Público acusou André Ventura e os dirigentes do Chega Rui Paulo Sousa, mandatário nacional da candidatura às presidenciais, e Filipe Melo, presidente da distrital de Braga, do crime de desobediência simples. O presidente do Chega ficou sujeito à medida de coação de termo de identidade e residência. Em causa está a organização de um jantar-comício durante a campanha presidencial. O evento realizou-se em pleno estado de emergência e desrespeitando um parecer da Direção-Geral da Saúde (DGS). A iniciativa, que teve lugar nos arredores de Braga, a 17 de janeiro , reuniu perto de 170 apoiantes em 450 metros quadrados num salão sem ventilação nem distanciamento físico.
No mesmo dia, o jornal online O Minho escrevia que António Cerqueira, ex-presidente da Câmara de Vila Verde, “que chegou a cumprir pena de prisão depois de ser condenado por diversos crimes relacionados com a governação pública”, surgia “como ‘senador’ da candidatura do ex-deputado municipal do PS Vila Verde e atual líder da concelhia do Chega, Fernando Silva”. António Cerqueira, eleito pelo CDS entre 1976 e 1997, foi condenado a seis anos de prisão, em cúmulo jurídico, pela prática de três crimes de peculato, relacionados com o uso indevido de bens de instituições públicas, três de falsificação e um de abuso de poder. O ex-autarca foi ainda obrigado a devolver 100 mil euros ao Estado de ordenados recebidos indevidamente.
Logo no dia a seguir, uma peripécia ocupou as páginas dos jornais. Um candidato do Chega entregou as listas no sítio errado e o partido de André Ventura ficou fora da corrida à câmara de Caminha. A notícias foi avançada em primeira mão pela Rádio Vale do Minho.
Também a 4 de agosto, Filipa Assis, divulgou na sua conta de Twitter uma mensagem enviada para o seu Facebook por um fervoroso apoiante do Chega. O remetente, um jovem chamado Bruno Silva, afirma ser “dos primeiros militantes do Chega” e parte da “juventude do norte”, e assume-se como “racista”, “fascista” e “amigo pessoal do Ventura”. “Aceita que dói menos! Espera o André Ventura e o Chega chegarem ao poder e vais ver o que é fascismo de verdade! Vamos acabar com o 25 de Abril e instaurar a 4.ª república!”, garante. E continua: “Adolf Hitler estava certo [quando] tentou salvar a humanidade aos banqueiros judeus”. No final da mensagem, na qual publica uma fotografia ao lado de Ventura, despede-se com a saudação Nazi: “Sieg Heil” e com a expressão “O fascismo liberta”. O caso foi divulgado pelo jornal i.
Adoro receber mensagens fofinhas! pic.twitter.com/4wPL9gZsrB
— Filipa Assis (@filipassis) August 4, 2021
Mais uma vez, surgiram também acusações de nepotismo no Chega, com a família Matias novamente em destaque: Manuel Matias (pai) é cabeça de lista à Câmara Municipal de Almada; José Maria Matias (filho) é quinto na lista à Câmara Municipal de Lisboa; Rita Matias (filha) vai na lista a Alcochete; e Paulo Matias (irmão) segue na candidatura a Benfica no quarto lugar. Citado pelo Observador, num artigo publicado a 5 de agosto, Manuel Matias argumenta que “quem ataca a família Matias não é pela competência”, é pela “lealdade ao Chega, ao André Ventura e aos valores que defendem”. O ex-líder do PPV defende-se ainda evocando aqueles que considera serem os bons exemplos de Trump, Bolsonaro e Le Pen.
Já esta sexta-feira, dia 6 de agosto, o Jornal de Notícias (JN) noticia que há suspeitas de violação da lei eleitoral nas listas do partido de André Ventura. Vários candidatos em Valpaços, entre os quais o cabeça de lista, constam também das listas de Chaves. “O caso está a levantar suspeitas sobre situações similares em outros concelhos”, escreve o JN.