“Nascer do Sol”, um esquema de intoxicação

01 de março 2024 - 14:51

André Ventura antecipou a "notícia" publicada pelo semanário detido por um fundo com ligações ao regime de Viktor Orbán e assinada por uma jornalista que foi cabeça de lista do CDS. Desta vez o alvo foi a mãe de Mariana Mortágua.

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Pedro Vargas David e Raquel Abecassis.
Pedro Vargas David e Raquel Abecassis.

O semanário Nascer do Sol publica esta sexta-feira uma "notícia" com o título "A estranha promoção da mãe de Mariana Mortágua", que o Bloco de Esquerda já veio considerar "um caso de manual sobre a intoxicação política em curso". O artigo tem a assinatura de Raquel Abecassis, que regressou ao jornalismo depois de ter assessorado Assunção Cristas na Câmara de Lisboa e de substituir a então líder do partido como cabeça de lista por Leiria nas legislativas de 2019.

A "notícia" dá conta de que a mãe de Mariana Mortágua, técnica do Instituto da Segurança Social de Beja que exercia funções como Diretora do Núcleo de Prestações de Cidadania, foi nomeada em 2020 diretora da Unidade de Desenvolvimento Social do Centro Distrital de Beja. A própria "notícia" reconhece que a nomeação "pode ser considerada natural", desmentindo o título que a aponta como "estranha". O resto são insinuações como "as circunstâncias em que aconteceu causaram estranheza entre colegas", o que terá acontecido "exatamente por ser quem era", ou seja, mãe das deputadas bloquistas.

Na tentativa de credibilizar a sua insinuação, a ex-candidata do CDS invoca as negociações do Orçamento do Estado para 2021, que o Bloco viria a chumbar. E diz que a coincidência de datas levantou "comentários”, não citados, “sobre uma possível relação de causa/efeito na política nacional".

Esta não é a primeira "notícia" a pretender atingir familiares diretos da coordenadora do Bloco durante esta campanha eleitoral. Mas ao contrário das anteriores, foi anunciada ainda antes de ser publicada, na véspera, por André Ventura, num jantar de campanha na Guarda.

O dono do “Nascer do Sol” tem ligações a Órban

Para o Bloco de Esquerda, "o que sobra desta história é apenas a evidência de um modus operandi de gente sem escrúpulos". Nas redes sociais, o partido lembra as ligações do novo dono do jornal, Pedro Vargas David, que foi diretor de campanha para a juventude de Cavaco Silva e é filho do ex-eurodeputado do PSD e ex-conselheiro de Viktor Órban, Mário David.

Pedro Vargas David representa o fundo de investimento Alpac Capital, com fundos de origem desconhecida, que nos últimos anos se dedica a aumentar a sua influência na imprensa europeia, tendo adquirido a Euronews e, em Portugal, a empresa que detém os títulos Nascer do SolInevitável.

Em 2021, o semanário Expresso deu conta que logo a seguir à criação do Alpac Capital, em 2016, Pedro Vargas David tornou-se administrador da Metalcom, a empresa contratada pelo governo de Viktor Órban para construir e manter a barreira anti-refugiados na fronteira com a Sérvia. O CEO e principal dono da Metalcom era Zoltán Bozó, candidato do Fidesz, o partido de Órban, à autarquia húngara de Szentes. O segundo maior acionista, Dániel Mendelényi, é um empresário nomeado embaixador “extraordinário e plenipotenciário” da Hungria em 2014.

O Expresso revela mais investidores húngaros em fundos de capital de risco geridos pela empresa de Pedro David, como um dos que está registado na CMVM portuguesa, o East West European Capital Fund, lançado em junho de 2017 com €20 milhões e que junta investidores como o banco estatal húngaro Exim, o grupo de gás e petróleo MOL e o maior banco privado do país, o OTP Bank. Outro fundo é o Luso-Pannon, que detém uma empresa de Budapeste com participação no capital de uma empresa de software húngara onde o português é um dos administradores.

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