Legislativas 2025

“Não vamos fingir que não vemos” o genocídio em Gaza, diz Mariana na FLUP

15 de maio 2025 - 16:45

Coordenadora do Bloco de Esquerda juntou-se a ativistas pela libertação da Palestina na esplanada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Habitação, custo de vida e futuro do país também foram temas de discussão.

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Mariana Mortágua
Fotografia de Gabriela Carvalho.

Foi uma corrida de obstáculos. Entre a entrada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e o lugar onde estava combinada a ação de campanha do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua demorou a chegar, cumprimentando e falando com todos os jovens na esplanada e no bar, parando várias vezes para tirar selfies.

“Já estive cá o ano passado e gostei muito, tive de voltar” ia dizendo a coordenadora do Bloco de Esquerda, que entre gritos de surpresa e palmas foi recebida calorosamente pelos estudantes que na tarde de quinta-feira vieram à faculdade para a ouvir falar. “És maior que a Taylor Swift”, disse uma estudante. Se não é verdade no ranking das estrelas pop internacionais, poderá sê-lo neste campus da Universidade do Porto.

Na data que assinala os 77 anos da Nakba, o mote da conversa começou precisamente sobre a libertação dos povos, da Palestina à Ucrânia e ao Sahara Ocidental. Com a presença dos ativistas que em 2024 organizaram a ocupação contra o genocídio na Universidade do Porto, Mariana Mortágua começou por criticar a posição da União Europeia face ao genocídio na Palestina. “Não há dúvidas sobre aquilo que se está a passar em Gaza”, disse. “Porque é que fingem que não estão a ver pessoas a morrer, uma ocupação, crimes de guerra?”.

Numa Europa que corre para a guerra a falar de paz, Mariana Mortágua pergunta “o que é que isto nos diz sobre nós?”. Em todo o mundo “quem está a lutar pela Palestina são os jovens”, sublinhou a coordenadora do Bloco de Esquerda, fazendo a ligação com a visita à FLUP. “Nós não vamos fingir que não vemos”.

O outro tema que a coordenadora do Bloco de Esquerda escolheu para trazer à faculdade foi a habitação, que é “uma espécie de guilhotina” para as gerações mais novas. “O problema é que temos uma renda de Berlim com um salário de Portugal”, explicou. “É por isso que os jovens emigram para a Alemanha, se vão pagar uma renda de Berlim mais vale receberem um salário de Berlim”.

Abrindo depois o microfone aos estudantes, foram partilhados testemunhos sobre o desgaste dos trabalhadores-estudantes, que é agravado pelos preços da habitação. “Há inúmeras pessoas que estudam e que não têm a possibilidade de ir às aulas”, disse um dos estudantes. “E quantas destas pessoas têm de trabalhar tantas horas porque não conseguem pagar a casa?”.

Outra estudante disse que, sendo estudante deslocada, cada vez é mais difícil arranjar um espaço para “construir a nossa vida”. Estuda para ser professora de História e falou de como os professores têm dificuldade em arranjar trabalho em sítios onde se possa viver.

“Lutei para voltar para Portugal, porque as minhas raízes estão aqui, mas agora que estou cá penso que vou ter de emigrar para conseguir viver”, disse uma estudante, que cresceu no estrangeiro, filha de pais emigrantes.

Mariana Mortágua, depois de ouvir os estudantes, explicou que veio de uma terra pequena e essas dificuldades são comuns a muita gente. “Temos de perceber que indústria queremos desenvolver em cada região”, disse. “Essa capacidade de planeamento perdeu-se” e isso significa a estagnação de um país entregue ao mercado e cada vez mais difícil para quem trabalha.

Esse mercado, que domina a habitação, o trabalho e a economia e que torna o país impossível de viver. “E ainda dizem que os liberais percebem de economia”, disse Mariana, sendo interrompida por aplausos. A coordenadora do Bloco de Esquerda falou de uma “transição ideológica” que aconteceu nos últimos anos, que hiper-individualizou a sociedade e destrói a comunidade. Esta geração “não pode viver permanentemente na precariedade sem saber o que vai acontecer amanhã”, concluiu Mariana Mortágua.