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Ministro abre porta à exploração de gás, Bloco quer explicações de António Costa

Costa e Silva criticou o Governo anterior por ter travado a exploração de combustíveis fósseis na costa algarvia e desafiou as empresas a apresentarem novos projetos, apesar da lei os proibir. Mariana Mortágua diz que "o Governo não pode ter duas caras" e exige que o primeiro-ministro se pronuncie sobre o caso.
António Costa e Silva na comissão parlamentar desta quinta-feira. Imagem ARTV

Em resposta à pergunta de um deputado do PSD sobre se mantinha a posição tomada enquanto administrador da Partex, que na altura estava no consórcio com a Repsol na prospeção de petróleo e gás no Algarve, quando disse que não valia a pena investir em Portugal após os protestos dos ambientalistas terem travado a exploração de petróleo e gás no Algarve e Costa Vicentina, o ministro da Economia reafirmou a posição que tomou. Mas foi mais longe e abriu a porta a uma mudança dessa orientação no atual executivo.

"Temos no offshore do Algarve reservas [de gás] superiores àquelas que a Repsol explorou em Espanha", afirmou António Costa e Silva, lamentando que "por um conjunto de reações isso não foi possível". "Posso estar errado em muitas coisas mas estava certo nisso. Se o país tivesse avançado com esse projeto hoje estava a produzir gás e tinha um hub de exportação de gás", prosseguiu o ministro, insistindo nas críticas àquela decisão tomada após meses de protestos das populações e ambientalistas: "Infelizmente vivemos num país em que muitas vezes as decisões que se tomam é o menor denominador comum de muitos interesses que estão envolvidos", apontou.

Mais surpreendentes foram as palavras seguintes do ministro, ao reabrir a possibilidade de voltar aos furos junto à costa algarvia. "Se as empresas vierem ter comigo e apresentarem projetos, eu não tenho nenhum 'parti pris'. Sou uma pessoa, não é que pense fora da caixa, penso mesmo sem caixa", afirmou o ministro durante o debate orçamental na especialidade.

"Ministro ignorou a lei portuguesa e assumiu representação dos interesses privados"

Em conferência de imprensa realizada esta sexta-feira, Mariana Mortágua desafiou António Costa a reagir às palavras do ministro da Economia no Parlamento. Para a deputada bloquista, foram "afirmações graves", uma vez que Costa e Silva "ignorou a lei portuguesa que proíbe a exploração de combustíveis fósseis e assumiu a representação dos interesses privados a que está associado"

"O Governo não pode ter duas caras, não pode ter uma cara que protege o ambiente e combate as alterações climática e ter outra cara que defende que se perfurem as costas algarvias para poder explorar combustíveis fósseis", prosseguiu Mariana Mortágua, concluindo que o primeiro-ministro deve vir a público esclarecer qual é a posição do atual executivo sobre este recuo em relação à proteção ambiental do país.

Climáximo: "Isto de pensar sem caixas é um hábito comum dos empresários dos combustíveis fósseis em postos políticos"

Também o coletivo pela justiça climática Climáximo reagiu em comunicado às palavras de Costa e Silva, considerando que revelam "negacionismo climático e desconhecimento das leis". "Esta declaração é absolutamente contra as leis de física e química dum planeta habitável". Numa altura em que o Governo "devia apresentar planos para cortar as emissões em Portugal 10% todos os anos, ponderar novos projetos de petróleo ou gás é no mínimo suicida, e claramente criminoso", aponta a Climáximo.

O coletivo lembra que a Lei de Bases do Clima que entrou em vigor em fevereiro proíbe concessões de hidrocarbonetos no território nacional e que "entre 2015 e 2018, o movimento por um Portugal livre de petróleo e gás lutou contra 15 contratos e venceu contra todos".

Quanto à afirmação de Costa e Silva de que é uma pessoa que "pensa mesmo sem caixa", a Climáximo diz que isso "é um hábito comum dos empresários em postos políticos, e particularmente da indústria dos combustíveis fósseis", lembrando que o ministro da Economia e do Mar "entrou no governo da petrolífera Partex pelas portas giratórias de costume" e "está a ver se consegue antecipar ainda mais" o esgotamento do orçamento de carbono de Portugal, que o Governo prevê vir a esgotar-se ainda esta década.

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