A ministra da Saúde foi entrevistada na SIC esta quarta-feira sobre o caos que se vive nas urgências e emergência médica. Ana Paula Martins insistiu que a situação está melhor do que no ano passado e pediu tempo para reorganizar a rede de urgências. Uma reorganização que o Governo pretende fazer através da concentração de serviços de urgência, encerrando alguns dos existentes, e também tentar convencer os médicos a aceitarem fazer urgências em mais de um local. Nas negociações com os sindicatos dos médicos em setembro estará também em cima da mesa a criação de urgências regionais, prevista do programa do Governo.
A falta de médicos e enfermeiros foi outro tema da entrevista, com a ministra a Ana Paula Martins a afirmar que o SNS deixou “de ser atrativo para os médicos, sobretudo os mais jovens. Estes têm uma enorme necessidade de ter vida própria. Temos serviços de urgência que são muito exigentes”. Ana Paula Martins prometeu que a urgência obstétrica do Hospital Garcia de Orta estará aberta 24 horas por dia a partir do dia 1 setembro, embora neste mês de julho só esteja aberta durante 11 dias.
Com os hospitais em dificuldades para completarem escalas de urgências durante o verão, o Governo autorizou o pagamento a médicos tarefeiros 50% acima do que recebem por hora os médicos do quadro, aumentando o teto do ano passado, que era de 40% e levou a uma despesa de 278,1 milhões de euros em pagamentos a médicos tarefeiros. Em fevereiro, a mesma Ana Paula Martins tinha dito à Antena 1 que o número de tarefeiros era um "fator de malignidade" dentro do Serviço Nacional de Saúde, estando apostada em diminuir “de forma significativa” o recurso a estes médicos.
Em declarações à Lusa, Joana Bordalo e Sá, presidente da FNAM, reagiu à entrevista concluindo que o Ministério da Saúde “continua sem apresentar soluções estruturais para resolver e salvar o Serviço Nacional de Saúde” e que a resposta política à “crise grave no acesso à saúde pública” tem sido marcada “por improviso, inação e até uma retórica que parece desconectada da realidade”.
“A senhora ministra promete soluções, mas entrega desculpas. Ou seja, este verão as grávidas continuam a ser postas em risco. Vai ser assim o verão todo. As urgências vão continuar a fechar. No seu discurso parece haver quase uma normalização de todo este colapso”, apontou a líder sindical.
Joana Bordalo e Sá sublinhou que não é só na margem sul do Tejo que há urgências encerradas: “O Hospital do Braga, um grande hospital do norte que é universitário, está com contingência a nível 3, a nível dos serviços de urgência de obstetrícia, ao fim de semana, sextas, sábados e domingos. O Hospital de Aveiro, por exemplo, agora em julho em metade dos dias não vai ter um serviço de obstetrícia aberto”, apontou.
A sindicalista critica ainda a proposta da criação das urgências regionais por entender que “não vai resolver o problema da distância e o problema das grávidas terem de continuar a correr tantos quilómetros. Antevemos que até seja uma tragédia anunciada, porque cada quilómetro a mais pode ser fatal”.
Quanto aos temas que a ministra não abordou nesta entrevista, Joana Bordalo e Sá sublinha que “nem uma palavra foi dita em relação ao facto de termos mais de 1,6 milhões de utentes sem médico de família, quando os cuidados de saúde primários são um dos pilares do Serviço Nacional de Saúde. Sem os cuidados de saúde primários a funcionar, os hospitais têm mais pressão”.
A líder da FNAM lamentou ainda “o tom” da entrevista de Ana Paula Martins. “As famílias não precisam quase de lágrimas em direto. As famílias e as pessoas precisam de um assumir de responsabilidades e precisam de medidas concretas. A ministra da Saúde não deve ser uma especialista em gerir desculpas, não é assim que deveria ser. Deveria ser uma ministra da Saúde a gerir o Serviço Nacional de Saúde”, concluiu.