Crise nas urgências: “Montenegro não se pode esconder atrás do passa-culpas”

07 de julho 2025 - 17:17

Reagindo aos casos dos últimos dias sobre falhas no acesso às urgências, Mariana Mortágua defendeu que é o primeiro-ministro que deve assumir responsabilidades e “acabar com este passa-culpas insuportável”.

PARTILHAR
Mariana Mortágua.
Mariana Mortágua. Foto Gabriela Carvalho/Arquivo

Em conferência de imprensa realizada esta segunda-feira, Mariana Mortágua referiu-se aos casos graves dos últimos dias nas falhas no acesso às urgências hospitalares. No caso da grávida do Barreiro que perdeu o filho a caminho de Cascais horas depois de ter ligado pela a linha SNS 24, a coordenadora bloquista afirmou que esta grávida ficou “enredada num sistema que o Governo montou porque não tem uma solução para o problema das urgências e do SNS em Portugal”.

“Esta mulher ligou para o SNS24 como tinha de ligar. Foi-lhe dito que tinha de ir para um hospital longe da sua residência e respondeu que não tinha os meios financeiros para lá chegar. Liga depois para o 112, espera pelos bombeiros, que têm de procurar uma urgência aberta. E ela acaba em Cascais muito tempo depois e a perder o seu filho pelo caminho”, resumiu.

O segundo caso, que diz respeito à falta de helicópteros de emergência, foi o do homem ferido em estado grave que demorou cinco horas a chegar da Covilhã a Coimbra, “passando por vários transportes e aeródromos, porque os helicópteros da Força Aérea que foram adjudicados para substituir os do INEM não podem aterrar nos heliportos dos hospitais”. Mariana Mortágua recorda que “o Governo sabia disto e não garantiu que a empresa a quem adjudicou o contrato dos helicópteros fornecia o serviço. E quando soube que não fornecia o serviço foi buscar a Força Aérea, mas não cuidou de garantir que estes meios serviam os propósitos para os quais estavam a ser alocados”.

Esta dificuldade em chegar às urgências, a dificuldade da própria linha de apoio saber quais as urgências que estão abertas a cada momento, e as notícias de que as escalas para o verão não está prontas e que “o verão pode ser muito pior do que têm sido estes meses” preocupam o Bloco de Esquerda, que desafia o primeiro-ministro, “que anda escondido atrás da lei da nacionalidade e da imigração”, a assumir as suas responsabilidades.

Luís Montenegro “não se pode esconder atrás do passa-culpas: a ministra diz que a culpa é do INEM, o INEM diz que é da direção executiva e do Governo, a direção executiva diz que é do INEM e da ministra”, prosseguiu Mariana Mortágua, acrescentando que só se compreende a permanência de Ana Paula Martins no cargo de ministra da Saúde “porque representa interesses corporativos e privados na Saúde com muito poder dentro do Governo”.

E por ser “insuportável este passa culpas, tem de ser o primeiro-ministro a encontrar uma solução, a demitir a ministra da Saúde, a apresentar ao país as soluções para os problemas que de facto existem”, em vez de estar concentrado em atacar os imigrantes. “Luís Montenegro acha que descobriu a pólvora, acha que se falar sobre imigração e nacionalidade e tiver isto como tema único, não é chamado a discutir mais nada”.

Para Mariana Mortágua, “esta tática política tem de ser denunciada”, até porque não é nova: “já tivemos um governo que achava que se falasse de contas certas não tinha de resolver nenhum problema do país. E a responsabilidade desse governo foi deixar o SNS e a crise da habitação nas circunstâncias em que deixou”, recordou, sublinhando que no caso do atual Governo a tática tem a agravante de ir ao encontro da agenda da extrema-direita.

Bloco questiona Governo sobre falhas na aplicação das baixas por endometriose e critica recuo no combate à violência obstétrica

“O PSD e o CDS em vez de estarem a resolver o problema das mulheres que é o acesso ao SNS, estão focados e a perder tempo a retirar direitos às mulheres nas leis no Parlamento, como é o caso da lei da violência obstétrica, e a combater imigrantes. Não querem saber do país, só querem fazer guerra cultural”, acusou Mariana, referindo-se à intenção dos dois partidos de recuar na lei aprovada no Parlamento há poucos meses, o que “mostra bem que querem usar esta maioria para reverter direitos conquistados e não para resolver problemas concretos”.

Outra lei recente e que as notícias dão conta de que não está a ser aplicada nalguns locais de trabalho é a que reconhece a necessidade das mulheres diagnosticada com endometriose poderem faltar ao trabalho e desses dias serem remunerados pelo empregador. O Bloco entende que “o Governo deve responder em reação á aplicação desta lei no setor público e privado, pois muitas mulheres esperaram muito tempo em sofrimento até que a sua doença pudesse ser diagnosticada e que pudessem ter o direito a faltar justificadamente ao trabalho”. Nesse sentido, o Bloco irá questionar o executivo sobre a questão.