Ministra desmentida por família da grávida que morreu no Amadora-Sintra

03 de novembro 2025 - 11:08

Ana Paula Martins garantiu aos deputados que Umo Cani não tinha tido acompanhamento até dar entrada no hospital com 38 semanas de gravidez. Na verdade, era seguida no centro de saúde desde julho, foi referenciada em agosto para o Amadora-Sintra por “elevado risco obstétrico” e teve ali várias consultas.

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Ana Paula Martins.
Ana Paula Martins. Foto de Rodrigo Antunes/Lusa

A ministra da Saúde prestou informação falsa os deputados na sexta-feira sobre o caso da morte de uma mulher guineense de 38 anos que morreu a caminho do hospital Amadora Sintra na madrugada de sexta-feira. "Era uma grávida que não teve acompanhamento até à data em que entrou no Hospital Amadora-Sintra já com 38 semanas de gravidez”, disse Ana Paula Martins, sugerindo que Umo Cani seria mais um caso do grupo que descrevera anteriormente, de grávidas que vêm a Portugal apenas para fazer o parto, “grávidas que nunca foram seguidas durante a gravidez, que não têm médico de família, grávidas recém-chegadas a Portugal, com gravidezes adiantadas, que não têm dinheiro para ir ao privado, grávidas que algumas vezes nem falam português, que não foram preparadas para chamar o socorro, por vezes nem telemóvel têm”.

A família de Umo Cani, cujo bebé nasceu de cesariana e viria a morrer no dia seguinte, reagiu com indignação às palavras da ministra. Segundo o jornal Público, Umo residia em Portugal há mais de um ano, era acompanhada desde julho no centro de saúde de Agualva, ali realizou a ecografia do segundo trimestre de gravidez em agosto, quando foi referenciada para ser acompanhada no Amadora-Sintra por “elevado risco obstétrico" e por ser aí que o parto se realizaria. Foi já no Amadora Sintra que teve uma consulta em setembro e outra na semana passada, às 38 semanas de gravidez, tendo sido detetada “uma hipertensão ligeiramente alta”. O diretor do serviço de obstetrícia diz que os exames posteriores descartaram complicações da gravidez, pelo que a grávida foi mandada para casa.

O Conselho de Administração da ULS Amadora Sintra já veio assumir responsabilidade pela informação errada, atribuindo culpas “à inexistência de um sistema de informação clínica plenamente integrado, que permita a partilha automática de dados e registos médicos entre os diferentes serviços e unidades da ULS Amadora-Sintra”. Ou seja, mesmo sem ter a certeza de que a grávida não estaria a ser acompanhada num centro de saúde, foi essa a informação que transmitiu num primeiro comunicado, apenas corrigido porque a família de Umo Cani veio a público desmentir a narrativa criada pela ministra. Esta segunda-feira, a SIC-Notícias noticia que o presidente da ULS Amadora-Sintra apresentou a demissão, que foi aceite pela ministra.

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