Argentina

Milei retirou boa parte das reservas de ouro do país

27 de agosto 2024 - 15:31

Nas últimas semanas a imprensa argentina deu conta da saída do país de parte das suas reservas de ouro. Governo recusa-se a dar explicações e economistas temem os riscos da operação.

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Milei e lingotes de ouro
Milei e lingotes de ouro

O mistério do ouro desaparecido tem agitado a vida política argentina nas últimas semanas, com a notícia de que o governo de Javier Milei estará a transferir os lingotes das reservas de ouro do país para o estrangeiro. Para onde, qual o valor e com que objetivo são questões a que o executivo não responde, alegando razões de segurança. O sindicato dos bancários estima que já tenham saído cerca de 1.350 milhões de euros e o seu líder e deputado da coligação peronista Unión Por La Patria, Sergio Palazzo, disse numa entrevista televisiva ter confirmado quatro carregamentos aéreos em junho, cada um no valor de 300 milhões de dólares, a soma máxima permitida pelo seguro. “Se se confirmar que nos últimos dias houve um quinto carregamento, estamos já na ordem dos 1.500 milhões de dólares transportados para o estrangeiro”, prosseguiu, calculando em 4.700 milhões de dólares o total das reservas do Banco Central argentino.

O ministro da Economia e principal figura do executivo ultraliberal, Luis Caputo, já tinha confirmado aos jornalistas o envio de ouro para o estrangeiro, dizendo que isso é “muito positivo”. “Hoje tens o ouro no Banco Central e é como se tivesses um imóvel lá dentro, que não podes usar para nada. Em contrapartida, se o colocas lá fora, podes obter rendimento”, explicou o ministro de Javier Milei. Caputo foi menos pedagógico na resposta que deu nas redes sociais ao pedido de explicações de deputados e senadores do Unión por la Patria: “São tão burros que fazem o pedido ao Ministério da Economia em vez do Banco Central”. A resposta da senadora Juliana Di Tullio veio de seguida: “Quando nos encontrarmos no Senado quero ver se me diz na cara o que me diz por tuíte”.

No debate entre economistas, conclui-se que qualquer que seja o cenário que justifique a saída do ouro, há riscos para o país, inclusive de ficar sem ele. “Se a operação significa o desinvestimento em ouro por parte do Banco Central, isso iria na contramão do que o mundo está a fazer, especialmente vários países asiáticos, como a Índia e a China, que estão a aumentar as suas reservas de ouro” diz o economista Horario Rovelli.

Um risco importante de colocar o ouro fora do país é também ele ficar embargado pelos vários processos que correm em tribunais internacionais, como o que o fundo abutre Burford Capital reclama em Nova Iorque 16 mil milhões de dólares por causa da nacionalização da petrolífera YPF em 2012, ou outros processos interpostos por fundos semelhantes na altura da restruturação da dívida argentina em 2001.

Outro cenário, considerado o mais provável, é que Milei tenha avançado para uma operação de recompra, em que o Estado vende o ouro a uma entidade financeira com o compromisso de o recomprar numa data futura a um preço previamente fixado. Aqui o risco é se o Estado não tiver o dinheiro acordado nessa data, perdendo assim os seus valiosos lingotes. Neste cenário, o dinheiro recolhido na venda inicial seria para reembolsar parte da dívida do país a outras (ou à mesma) entidades financeiras. Um outro cenário é a receita imediata resultante desta operação de recompra sirva de garantia para um novo empréstimo, aumentando ainda mais o endividamento da Argentina que no mês passado rondava os 450 mil milhões de dólares. Em 2025 vencem obrigações no valor de 10 mil milhões de dólares e Milei já disse em julho que “pagaremos seja como for”.
 

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