Argentina

Milei: do “viva a liberdade” ao botão para silenciar jornalistas

07 de março 2025 - 10:22

O porta-voz presidencial anunciou ainda a introdução de um sistema de “votação” online para se decidir que jornalistas podem fazer perguntas nas conferências de imprensa. O governo de Milei quer convidar influencers e youtubers seus apoiantes para estas conferências.

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Adorni em conferência de imprensa.
Adorni em conferência de imprensa. Foto Casa Rosada.

Manuel Adorni, porta-voz do presidente argentino Javier Milei, anunciou que a Casa Rosada introduzirá nas conferências de imprensa um “botão silenciador” para calar jornalistas sempre que considere necessário.

A Presidência da República acrescentou ainda que passará a existir um sistema de “votação”, feita através do Youtube e outras redes sociais, para decidir que jornalistas podem fazer perguntas nas conferências de imprensa.

O seguidor de Milei, mostrando que o estilo do seu raciocínio não anda longe do seu chefe, justificou que “é importante que se escute quando falam ou que fiquem bem na câmara. Dentro disso, creio que tem que estar a liberdade de expressão, a liberdade da imprensa em todo o seu esplendor”. Ainda disse que o uso do botão será “divertido”. E quando um jornalista o questionava sobre os critérios a aplicar, disparou com ironia “por exemplo, agora aplicá-lo-ia”.

Garante ainda que só usará o botão “para evitar, por exemplo, que arranquem o microfone da mão de pessoas que trabalham na Casa Rosada. Prefiro silenciá-los e acabou o problema”. E que a votação é “um esquema em que os jornalistas podem ser eleitos pelas pessoas” feito “de uma maneira que as pessoas se sintam representadas e informadas e vocês (os jornalistas) sintam também que podem fazer o melhor trabalho”.

Argentina

Milei promove criptoburla

16 de fevereiro 2025

O jornal Página 12 liga o anúncio a uma “operação de distração” montada pelo governo depois de Milei ter promovido a criptoburla de uma desconhecido “moeda”, um esquema piramidal chamado $Libra, que colapsou em horas deixando milhares sem o dinheiro investido e uns poucos mais ricos. Para além disso, pretende-se-ia também desviar atenções da acusação criminal conhecida esta quarta-feira contra a irmã do presidente, figura altamente influente junto deste e secretária-geral da presidência, por corrupção passiva, tráfico de influências e quebra da ética pública.

O La Nación dá conta de que a Casa Rosada está a preparar uma resolução, para aplicar já desde o início de abril, que obrigaria os jornalistas ao uso de fato e gravata e que só deixaria entrar aqueles com vínculo aos órgãos de comunicação social, excluindo os que sejam trabalhadores independentes, supostamente por ausência de seguro de risco.

Outras medidas em estudo seriam introduzir limites de “experiência” na área do jornalismo político, número mínimo de anos de atividade e produção de artigos.

As medidas restritivas aos jornalistas parecem ser contraditórias com outra que está na calha, de acordo com estes jornais: permitir que nas conferências de imprensa participem não apenas jornalistas acreditados mas também youtubers, bloggers, podcasters e “influencers” afins ao partido de Milei ou, como o coloca ao La Nación fonte da presidência, “todo aquele que se dedique a informar de boa fé”. Trata-se de uma medida que a porta-voz de Trump, Karoline Leavvit, também disse ir implementar logo na primeira conferência de imprensa que fez depois de ser nomeada. Na Argentina, Milei tinha já aberto o precedente de acreditar o youtuber Mariano Pérez, um dos seus defensores entre os influencers das redes sociais.