A greve de fome de protesto de Nestora Salgado, iniciada no dia 5 de maio, já entrou na segunda semana, colocando-a em risco de vida se o governo de Enrique Penna Nieto não a puser em liberdade nas próximas horas.
Na semana passada, o La Jornada esclarecia: “Com nove dias de greve de fome exigindo a sua libertação imediata, Nestora Salgado Garcia, líder da Polícias Comunitárias de Olinalá, Guerrero, e reclusa na prisão de máxima segurança de Tepic desde agosto de 2013, apresenta uma “importante deterioração” no seu já delicado estado de saúde, informou o seu advogado Leonel Rivero, que sublinhou que a sua cliente “está disposta a chegar às últimas consequências”.
Segundo o advogado, a detenção de Nestora obedece a um “claro interesse político” e no seu processo judicial foram cometidas uma infinidade de violações dos direitos humanos, situação que se agrava com a lentidão do processo judicial.
Foram cometidas uma infinidade de violações dos direitos humanos, situação que se agrava com a lentidão do processo judicial.
Segundo o La Jornada, “em conferência de imprensa, na qual participaram familiares e representantes de organizações de direitos humanos exigindo a sua libertação imediata, o advogado Rivero Rodríguez denunciou que, desde que foi presa, Nestora Salgado não tem recebido a terapia nem os medicamentos recomendados pelos seus médicos.
Além desse facto, Nestora está mantida em solitária, sobrevivendo apenas de água, e sem contacto humano por períodos de até 23 horas.
No México atual, o governo tem mantido na prisão dezenas ou centenas de ativistas políticos e opositores, principalmente os que se decidiram a organizar a luta de defesa de seus familiares contra a violência do narcotráfico e também do próprio aparelho de estado. Como é o caso de Arturo Campos Herrera, Gonzalo Molina, Marco Antonio Suástegui e o doutor Mireles, que foi durante vários meses o principal líder das autodefesas mexicanas.
Herrera e Molina declaram greve de fome em protesto e solidariedade a Nestora Salgado
Segundo as esposas de Arturo Campos Herrera e Gonzalo Molina, integrantes da Coordenadora Regional de Autoridades Comunitárias Policia Comunitária (CRAC-PC), os seus maridos decidiram entrar, também, em greve de fome em protesto contra as suas prisões e em solidariedade a Nestora.
Manifestações em cinco cidades
Segundo o El Sur, da província de Guerrero, houve manifestações em cinco cidades:
“Houve protestos de estudantes da Universidade Pedagógica Nacional(UPN) em Chilpancingo, y dos pais dos 43 normalistas de Ayotzinapa desaparecidos em Iguala, na portagem de Palo Blanco na Rodovia del Sol.
Na comunidade de Salsipuedes, município de Acapulco, o Conselho de Ejidos e Comunidades opositoras da Represa La Parota (Cecop), familiares de Nestora e polícias comunitárias puseram-se diante dos poços de água que abastecem o porto e ameaçaram fechar as válvulas se não for libertada a líder comunitária e o porta-voz da Cecop, Marco Antonio Suástegui.
Em Tixtla, a CRAC fechou a rodovia de Chilapa, entregou panfletos informativos, pediu cooperação voluntária e exigiu, além da libertação de Nestora, do divulgador dessa organização, Gonzalo Molina Gonzales.
O Movimento Popular Guerrerense (MPG) de Tlapa bloqueou as rodovias de Chilapa e Marquelia e pregou autocolantes de apoio a Ayotzinapa, a Nestora e contra as eleições, nos automóveis que passavam pelo local.”
Solidariedade internacional nos EUA e Brasil
Nestora Salgado possui dupla cidadania, mexicana e americana. Durante todos esses meses, o governo americano tem abandonado essa sua cidadã à sua própria sorte, sem exigir do governo mexicano de Enrique Pena Nieto sua imediata libertação. Apenas algumas vozes democráticas, como a do senador Patty Murray e do congressista Adam Smith, levantaram-se contra esta absurda situação.
Na sexta-feira, o Comité Free Nestora, dos EUA, realizou um protesto diante da embaixada mexicana na cidade de Chicago, também tem feito circular um abaixo-assinado a exigir a sua libertação.
No Brasil, a solidariedade tem sido desenvolvida pela professora amazonense Gleice Oliveira que, desde o primeiro minuto, tem sido uma das vozes solitárias a defender Nestora Salgado nesse gigantesco país, através das redes sociais. Outras organizações de esquerda, mesmo conhecendo a situação, preferem omitir-se e recusam-se a tocar no tema por questões que permanecem inexplicáveis.
A falta de solidariedade internacional é um dos elementos que poderá levar a um desfecho trágico, já que Nestora parece disposta a manter a sua palavra de chegar às ultimas consequências. E apenas os protestos no México, apesar da divulgação que estão tendo na imprensa local, não parece incomodar, até o momento, o governo mexicano.
Mesmo assim, Tomás Holguín, do Comité Nestora Libre, convida a todos a juntarem-se a esta campanha, cuja duração será extremamente curta, devido à já precária situação de saúde de Nestora Salgado.
Como deixou claro a professora brasileira Gleice Oliveira, em defesa de Nestora Salgado, mesmo que esteja a lutar com alguns poucos no Brasil: Não me calo!