Depois da festa da oposição durante o fim de semana, na sequência do anúncio da renúncia do presidente boliviano Evo Morales, o ambiente na segunda-feira passou a ser de grande apreensão, com ruas desertas e comércio fechado, à espera da anunciada reação dos apoiantes de Morales e do seu partido MAS, que viu muitos dos seus dirigentes e governantes presos e em fuga devido ao golpe de estado em curso naquele país.
Na segunda-feira, muitas centenas de partidários de Morales deslocaram-se de El Alto para La Paz, empunhando bandeiras Whipala, que representa os povos originários e foi consagrada segunda bandeira do país. Nas manifestações contra Morales nos últimos dias, foram queimadas muitas destas bandeiras, enquanto militares e polícias as arrancavam dos seus uniformes.
“Estamos pedindo como povo altenho que se respeite a nossa Whipala, porque ela representa o sangue Aymara, o sangue Quechua, o sangue Guarani, mas Camacho e Mesa fizeram queimar nossa Whipala. Nós vimos como Camacho chegou até aqui, usa a Bíblia para espezinhar o povo Aymara”, disse um líder indígena à revista brasileira Fórum, referindo-se ao líder da direita extremista boliviana Luís Fernando Camacho e ao ex-presidente e candidato derrotado nas presidenciais, Carlos Mesa.
Entre os manifestantes estão muitos indígenas e cocaleros, mas também membros da milícia Ponchos Rojos, irrompendo pelo centro da cidade a entoar a palavra de ordem “Agora sim, guerra civil”. A polícia evacuou de imediato os políticos que estavam reunidos no centro de La Paz e pediu apoio aos militares, fazendo antever confrontos graves.
Em cidades como Cochabamba e El Alto, os protestos contra o golpe tomaram as esquadras de polícia como alvo, destruindo as instalações. O comandante da polícia boliviana, general Yuri Calderón, demitiu-se esta segunda-feira após as críticas à inação policial na sequência da renúncia de Morales. Ainda antes disso, muitos polícias amotinaram-se e juntaram-se às forças da oposição na perseguição aos dirigentes do MAS.
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Ainda em parte incerta, Evo Morales aceitou a oferta de asilo feita pelo presidente mexicano López Obrador. O chefe da diplomacia mexicana justificou a oferta "por razões humanitárias e em virtude da situação de perigo que ele enfrenta na Bolívia, onde a sua vida e integridade estão em perigo".
Evo tem comunicado através das redes sociais e reagiu às notícias da chegada dos seus apoiantes a La Paz com apelos à não violência. Este tweet é o mais recente apelo e foi partilhado inclusivamente pelo candidato derrotado nas presidenciais do mês passado e apontado como um dos promotores do golpe. Carlos Mesa diz agora temer pela própria vida ao saber que os manifestantes se aproximam da sua residência em La Paz.
Pido a mi pueblo con mucho cariño y respeto cuidar la paz y no caer en la violencia de grupos que buscan destruir el Estado de Derecho. No podemos enfrentarnos entre hermanos bolivianos. Hago un llamado urgente a resolver cualquier diferencia con el diálogo y la concertación.
— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) November 11, 2019
Antes da chegada dos apoiantes de Morales a La Paz, a senadora da oposição Jeanine Añez — que reivindica o direito à sucessão, após a demissão em bloco do presidente e de boa parte dos seus sucessores constitucionais — afirmou que pretende convocar eleições em janeiro. Poucos minutos depois, estava também a ser evacuada pela polícia.