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Memórias: Fellini estreia “La Strada” há 60 anos

No Festival de Cinema de Veneza, a 7 de setembro de 1954, estreou-se uma obra-prima de Federico Fellini - “La Strada” - filme inserido no neorrealismo, movimento que retratava a Itália pobre e decadente do pós-guerra. Por António José André.

Essa estética esteve presente noutros trabalhos de Fellini: “Luci del Varietá” (“Mulheres e Luzes”, 1950), “Lo Sceicco Bianco” (“Abismo dum Sonho”, 1952), “I Vitelloni” (“Os Boas Vidas”, 1953) e “Le notti di Cabiria” (“As Noites de Cabíria”, 1957).

“La Strada” conta a história de Gelsomina (Giulietta Masina), uma jovem vendida pela mãe a Zampanò (Anthony Quinn), que ganhava a vida como artista itinerante. Gelsomina aprendeu a tocar trompete e tambor. E Zampanò passou a ser um tirano para com ela.

Certo dia, ela revoltou-se e abandonou-o. Depois conheceu Il Matto (O Bobo), talentoso equilibrista e palhaço (Richard Basehart), que também era artista de rua. Os dois juntaram-se a um circo itinerante, onde Il Matto já trabalhava.

Mais tarde, Zampanò perseguiu e agrediu Il Matto. Os dois foram presos e despedidos do circo. Após a saída da prisão, Il Matto disse a Gelsomina que havia alternativas para a servidão e afirmou que tudo e todos têm um objetivo, mesmo um pedregulho.

Os diferentes caminhos do bobo e do tirano cruzaram-se pela última vez numa estrada. Zampanò viu Il Matto a trocar o pneu do carro e satisfez a sua vingança com uma série de golpes na cabeça do bobo, sob os olhares de Gelsomina horrorizada.

Il Matto faleceu. Mas o seu assassinato arrasou Gelsomina. Passados alguns dias, Zampanò abandonou-a. Anos mais tarde, ouviu uma mulher a cantar a canção que Gelsomina costumava cantar.

Nessa altura, ficou a saber que o pai dessa mulher a tinha encontrado na praia e que a tinha acolhido, mas que ela morrera de tão grande mágoa. Zampanò passou a embebedar-se e a vaguear pela praia.

A ideia do personagem Zampanò surgiu da adolescência de Fellini, na cidade costeira de Rimini. Havia lá um homem que levava todas as meninas para a cama. Quando deixava uma menina grávida, todo o mundo dizia que o bebé era filho do diabo.

A banda sonora do filme[i], composta por Nino Rota (habitual colaborador de Fellini), merece atenção. Uma canção melancólica aparece ao longo das cenas: na melodia executada por Il Matto com um violino miniatura; depois, quando Gelsomina tocava trompete; e, finalmente, quando entoada pela mulher que contou a Zampanò o final de Gelsomina.

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