Sahara Ocidental

Marrocos retém Catarina Martins em missão de eurodeputados com destino ao Sahara Ocidental

20 de fevereiro 2025 - 17:15

À chegada ao aeroporto de El Aaiún, Catarina Martins, Jussi Saramo e Isa Serra foram impedidos de entrar no território quando participavam numa missão de observação por parte de deputados no Parlamento Europeu.

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Catarina Martins, Jussi Saramo e Isa Serra,
Catarina Martins, Jussi Saramo e Isa Serra no avião à chegada a El Aaiún

Esta quinta-feira, no aeroporto de El Aaiún, no Sahara Ocidental, pessoas não identificadas, presumivelmente agentes de autoridade marroquinos, estão a impedir a entrada no território dos eurodeputados Catarina Martins, Jussi Saramo e Isa Serra, que aí se deslocaram no âmbito de uma missão de observação de deputados do Parlamento Europeu para analisar o cumprimento da sentença dos tribunais europeus que anula os acordos entre UE e Marrocos devido à exploração de recursos saharauis.

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Num dos vídeos divulgados da situação, Catarina Martins explica: “disseram-nos simplesmente que somos persona non grata e que portanto não podemos desembarcar. Não percebemos quem são as pessoas que nos estão a impedir, não se identificaram, também não percebemos de quem vem a ordem, estamos a contactar as nossas embaixadas para tentar perceber o que é que se passa”.

A eurodeputada bloquista questiona porque é que a missão de observação não pode ser cumprida.

Noutro vídeo, difundido pelo canal RED, pode ver-se uma pessoa não identificada a empurrar as eurodeputadas, nomeadamente Isa Serra, do Podemos, para as tentar fechar dentro do avião em que seguiam. Enquanto ela e Catarina Martins continuam a pedir uma justificação para o sucedido, o homem, presumivelmente das forças de segurança marroquinas, continua a empurrar e e a fechar a porta do avião.

A visita tinha uma agenda organizada para conhecer as violações dos direitos humanos e um encontro com a MiNURSO (Missão das Nações Unidas encarregada do cumprimento do referendo de autodeterminação do Sahara Ocidental), incluindo ainda encontros com associações do próprio território “que denunciam a pilhagem dos recursos naturais por empresas europeias e marroquinas no território ocupado”, informa o grupo de eurodeputados.

Antes de entrarem no território, já sublinhavam que, tal como indicado no Protocolo dos Privilégios e Imunidades da União Europeia e no Estatuto dos Deputados ao Parlamento Europeu, “estão estabelecidos os poderes e garantias dos representantes públicos e a obrigação de todas as administrações colaborarem com ele sem obstáculos, especialmente em questões tão sensíveis como a proteção dos direitos humanos e em algo que é da nossa responsabilidade, que é assegurar o cumprimento não só das resoluções das Nações Unidas e do direito internacional, mas especificamente da jurisprudência do TJUE, uma vez que afeta a própria UE e os seus acordos com outros países”.

A embaixada de Espanha em Marrocos, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a Delegação da UE em Marrocos tinham também já sido contactados “a fim de contar com a colaboração de todas as autoridades no nosso trabalho, para além, evidentemente, de termos organizado a observação com a Frente Polisário, a legítima representante do povo saharaui, tal como estabelecido nas resoluções da ONU e no próprio acórdão europeu”.

Bloco questiona Paulo Rangel sobre intervenção da diplomacia portuguesa face a Marrocos

Em requerimento dirigido ao ministro dos Negócios Estrangeiros, o grupo parlamentar do Bloco de Esquerda considera que “é inaceitável que uma deputada ao Parlamento Europeu eleita por Portugal seja impedida de entrar no Saara Ocidental”.

O Bloco questiona Rangel sobre que medidas está o Governo a tomar para apurar as circunstâncias que motivaram a recusa da entrada de uma eurodeputada no Saara Ocidental e para garantir que a situação não se voltara a repetir. Além disso, quer que o ministro responda se vai apresentar um protesto junto do Embaixador de Marrocos por ter sido recusada a entrada a uma eurodeputada portuguesa.

Frente Polisario desafia instituições da UE a apresentarem queixa junto de Marrocos

A representação da Frente Polisario em Espanha condenou a “expulsão arbitrária” dos três eurodeputados do território do Sahara Ocidental, lamentando que não seja uma exceção. “Marrocos nega, de forma sistemática, a entrada no Sahara Ocidental a jornalistas, ativistas e representantes políticos com o objetivo de ocultar as violações dos direitos humanos a que submete a população civil saharaui”, apontam.

Esta expulsão, prossegue o comunicado, “é uma prova evidente do grande sentimento de impunidade de Marrocos”, pelo que Frente Polisario apela às instituições da União Europeia “a apresentar de forma oficial a sua queixa ante Marrocos”.  

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