Trabalho

Mariana ouviu trabalhadoras do têxtil com salários em atraso e exigiu “respeito por quem trabalha”

13 de abril 2025 - 18:07

Num encontro com trabalhadoras da Zenaide e Costacurta, a coordenadora bloquista ouviu histórias comuns a centenas de mulheres que de um dia para o outro deixaram de receber e o patrão não passa os documentos para o subsídio de desemprego.

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Encontro com trabalhadoras no Porto
Encontro com trabalhadoras no Porto. Foto de Rafael Medeiros

As trabalhadoras de duas empresas d setor têxtil, a Zenaide, em Penafiel, e a Costacurta, em Lousada, ambas no distrito do Porto, continuam sem receber salários nem os papéis que lhes permitam aceder ao subsídio de desemprego. Estão assim há meses e já se tinham encontrado com Mariana Mortágua num protesto à porta da fábrica. Agora, a coordenadora bloquista, acompanhada das deputadas Marisa Matias e Isabel Pires, organizaram um encontro no Porto para que possam contar o que têm vivido.

“A situação está complicada até para termos os nossos papéis e os nossos direitos. Ninguém nos ajuda nem para os apoios para levarmos a questão a tribunal”, afirmou uma trabalhadora que tenta suspender o contrato por falta de pagamento por parte “de um patrão que não dá a cara”. “Sempre houve trabalho, se ele via que isto não estava bem mandava-nos para o fundo de desemprego. Assim não! Noutra fábrica deu o fundo de desemprego a 30 trabalhadoras e a nós não. Quatro meses, quase cinco, sem nada. Isto é um desespero. Prometeu que íamos para uma fábrica melhor e não cumpriu nada”, acusou.

Outra trabalhadora, das mais recentes na fábrica, entrou em outubro e só esta sexta-feira conseguiu suspender o contrato por justa causa ao fim de três meses sem receber. “Estou desde dezembro sem receber um euro. Estava no fundo de desemprego e suspendi-o para entrar na empresa, agora só terei direito ao subsídio social, que não chega para as despesas”, contou, recordando que viu o novo patrão duas vezes na empresa e que “na primeira deixou-nos super-confiantes, disse que dinheiro não nos ia faltar”. Um relato comum às outras trabalhadoras, que o acusam de ter introduzido peças de roupa de marcas de qualidade e diferentes das que produziam na anterior gerência, esperando ter a mesma produtividade quando o trabalho era muito mais complexo.

Encontro com trabalhadoras no Porto
Encontro do Bloco com trabalhadoras do têxtil em luta. Foto Rafael Medeiros

No encerramento da conversa, Mariana Mortágua elogiou “esta capacidade de união e de luta” das trabalhadoras. E num momento em que os políticos falam de estabilidade, lembrou que “estabilidade é saber que se tem um salário ao fim do mês e que esse dinheiro chega para as contas“.

Nas suas conversas com estas trabalhadoras, mas também com as de outras empresas do setor têxtil da região que fecharam portas, “muitas pessoas me dizem ‘nós tínhamos trabalho e sabemos como fazer’. E depois há um homem que manda nelas e não consegue pôr a fábrica a funcionar. Ficam reféns de alguém que aparece sem saber o que está a fazer”, apontou a coordenadora do Bloco.

“Este patrão já compra a fábrica em dificuldades e vai dizer a centenas de mulheres que há um futuro, para passado uns meses deixar de lhes pagar”, prosseguiu Mariana antes de exigir “respeito por quem trabalha”. E isso “quer dizer leis, mas também quer dizer ter uma economia que serve as pessoas, que serve quem trabalha. Uma economia em que quem sabe fazer o trabalho pode organizar esse trabalho em vez de estar sempre dependente de um pato bravo qualquer, de um chico esperto qualquer que aparece para abrir e fechar e muitas vezes com encerramentos fraudulentos”.

Encontro com trabalhadoras no Porto
Encontro do Bloco com trabalhadoras do têxtil em luta. Foto Rafael Medeiros

“Se por cada fábrica que vai à falência, as trabalhadoras pudessem organizar e tomar conta da fábrica, as coisas corriam muito melhor”, considerou a deputada bloquista, falando do papel do Estado nesse investimento para manter as fábricas abertas e geridas pelas trabalhadoras, evitando que vão para o desemprego.

Mariana deixou ainda um convite aos empreendedores para que “ajudem as trabalhadoras a poderem tomar conta da sua fábrica, que ajudem as pessoas a poderem gerir o seu negócio, a proteger o seu trabalho, a fazer aquilo que fazem de melhor, sem terem que depender de ninguém”.

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