No domingo várias cidades da Turquia assistiram à quinta noite consecutiva de protestos na sequência da detenção do presidente da Câmara de Istambul, Ekrem Imamoglu, acusado pelo regime de Erdogan de corrupção nas vésperas de ser designado como candidato à presidência do país.
Imamoglu, que se tem apresentado como o principal rival político do atual presidente que está no poder há 22 anos, foi finalmente, tal como esperado, anunciado esta segunda-feira como candidato presidencial pelo seu partido, o CHP, Partido Republicano do Povo. De acordo com o partido, perto de 15 milhões de pessoas, entre dois milhões de membros do partido e 13 milhões de independentes, votaram neste processo de escolha.
A designação de Imamoglu como candidato presidencial é sobretudo uma medida simbólica. As próximas eleições presidenciais estão marcadas para 2028. Mas o CHP aproveita a prisão do seu dirigente para pedir eleições antecipadas. Segundo um discurso do presidente, Ozgur Ozel, o que está a passar coloca “a legitimidade de Erdogan em causa e torna uma eleição antecipada inevitável”.
No domingo um tribunal tinha decidido que o autarca ficaria preso preventivamente na prisão de Silivri sob a acusação de “estabelecer e liderar uma organização criminosa, aceitar subornos, peculato, registar ilegalmente dados pessoais e defraudar concursos públicos em conexão com uma investigação financeira”. Foi informado também que enfrenta acusações de “terrorismo” por ter alegadamente participado numa iniciativa do Congresso Democrático do Povo, um partido curdo acusado de estar ligado ao PKK, mas desconhece-se o andamento desse processo.
Para além disto, o ministro do Interior anunciou entretanto que ele e outros dois presidentes distritais de Istambul tinham sido destituídos do cargo. Isto faz com que atualmente estejam presos seis dos 27 presidentes de câmara municipais do CHP na grande Istambul, apenas um ano depois de o partido de Erdogan ter sofrido uma derrota eleitoral nas municipais.
O Governo escuda-se porém na ideia de que os tribunais que o acusaram são independentes, o que não convence a oposição. Erdogan disse que “apontar para as ruas em vez de tribunais para defender o roubo, a pilhagem, a ilegalidade e a fraude é uma grave irresponsabilidade” e acrescentou: “assim como não nos rendemos ao terrorismo de rua até agora, também não nos curvaremos ao vandalismo no futuro”.
Imamoglu, pelo contrário, considera as acusações “inimagináveis e calúnias”. A sua prisão desencadeou a maior onda de protestos na Turquia em mais de uma década. Isto enquanto continua em vigor uma proibição de ajuntamentos nas ruas.
Na véspera de ser preso, a Universidade de Istambul tinha anunciado que o seu grau académico tinha sido anulado, o que o impediria de se candidatar à presidência. Imamoglu é licenciado em administração de empresas e mestre em gestão de recursos humanos. Mas a universidade alegou irregularidades num processo de transferência de uma universidade em que tinha estudado antes.
As manifestações não param, a repressão também não
Em Istambul, voltaram a ser dezenas de milhares as pessoas que se concentraram em frente a Câmara Municipal. De acordo com a Reuters, ocorreram durante a noite “confrontos dispersos com a polícia e algumas detenções nas maiores cidades” turcas, sendo as manifestações descritas como “pacíficas na sua maior parte”.
O Ministério do Interior admite que já prendeu 1.133 pessoas desde o início dos protestos. Entre eles estão também jornalistas que estavam a cobrir as manifestações. O Sindicato dos Jornalistas da Turquia revelou a identidade de nove deles que foram presos durante esta noite, entre os quais um fotógrafo da Agência noticiosa France Presse. Por outro lado, a organização não governamental Associação para os Estudos Legais e dos Meios de Comunicação Social avança que está a prestar ajuda a dez jornalistas detidos e conta que mais de vinte foram agredidos nos últimos dias pela polícia.
A rede social X anunciou este domingo à noite que as autoridades turcas lhe pediram que bloqueasse mais de 700 contas.
A contestação tem provocado fortes quedas na lira turca, nas ações e obrigações, tendo as vendas a descoberto sido proibidas na bolsa de Istambul.