Inteligência Artificial

Mais de 100 organizações exigem limitar impacto ambiental da IA

08 de fevereiro 2025 - 11:54

Nas vésperas da cimeira da Inteligência Artificial em Paris, as organizações apresentam 15 exigências para mitigar os danos da IA nas economias, sociedades e no planeta.

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Interior de um centro de dados.
Interior de um centro de dados. Foto CommScope/Flickr

A carta aberta à cimeira da Inteligência Artificial, que o governo francês acolhe a partir de segunda-feira, é subscrita por mais de uma centena de organizações da sociedade civil, como a Amnistia Internacional, European Digital Rights (EDRi), Beyond Fossil Fuels, Climate Action Network, ou a portuguesa Zero.

Nesta carta aberta, chamam a atenção para o consenso científico sobre as alterações climáticas que exige o abandono dos combustíveis fósseis para reduzir as emissões de gases com efeito estufa. No entanto, os sistemas de Inteligência Artificial são grandes consumidores destas fontes de energia poluentes, bem como de água, “intensificando os danos ambientais ao longo da cadeia de abastecimento tecnológica e acelerando a expansão de uma infraestrutura de computação com consumo intensivo de recursos para além dos limites sustentáveis.

Inteligência artificial

As outras vítimas da IA chinesa DeepSeek: empresas do setor da energia e datacenters

por

Yago Álvarez Barba

29 de janeiro 2025

O facto destes danos ambientais estarem ausentes do debate dos governos sobre a IA preocupa as organizações que acusam o setor tecnológico de estar a agir “como se não houvesse limites planetários”. E concluem que a IA nunca poderá ser uma “solução climática” se continuar assente no consumo de combustíveis fósseis e contribuir para mais extração de petróleo e gás.

Por isso, exigem que a infraestrutura de IA, incluindo os datacenters, sejam livres de combustíveis fósseis, ao contrário do que hoje acontece. E denunciam que nos EUA e partes da Europa, é o consumo destes centros de dados que está a manter abertas algumas centrais de energia a carvão. Às empresas tecnológicas, exigem investimentos em energias renováveis para alimentar estes datacenters e o fim do recurso às falsas compensações de emissões, bem como o termo dos contratos de fornecimento de tecnologia de IA à indústria dos combustíveis fósseis com a finalidade de mais exploração.

Aos governos, apelam à introdução de moratórias ou tetos à procura de energia dos centros de dados e a garantia de que os novos datacenters não irão esgotar a água e os terrenos de que a população precisa. O consumo diário de água destes centros de dados equivale ao de cidades com centenas de milhares de habitantes. Exigem também que as redes de energia estejam aptas a  permitir a computação mais intensa em horários de baixa procura e maior disponibilidade de energias renováveis. E querem também o fim da obsolescência programada que existe também nos servidores e outros aparelhos no setor da AI.

As organizações querem ainda garantir que as empresas reduzem as emissões nas suas cadeias de abastecimento e que a mineração de matérias-primas não cause danos ao meio ambiente e às comunidades locais. A participação das comunidades afetadas ao longo da cadeia de abastecimento deve ser incluída na tomada de decisões e os governos devem deixar de criminalizar os protestos pela ação climática, acrescentam.

Por último, exigem transparência nos dados sobre o consumo de água e energia ao longo de todo o ciclo de vida da IA, bem como sobre o impacto dos datacenters, que deve ser conhecido antes da sua construção. A mesma transparência é pedida ao impacto ambiental dos fabricantes e transportadores de hardware.

Se estas quinze exigências forem cumpridas, dizem as organizações signatárias, isso será “o mínimo exigível para mitigar os danos em curso para as nossas economias, sociedades e o planeta que partilhamos”.