Com base nos dados divulgados pela revista Forbes, as ONG Oxfam e a Action Aid fizeram as contas aos "lucros caídos do céu" das grandes empresas, ou seja, os lucros que excedem em mais de 10% a média registada nos quatro anos anteriores. E o resultado não surpreende. Em 2021 e 2022, as 722 maiores empresas do mundo somaram cerca de um bilião de euros por ano em lucros excessivos, uma média que supera em 89% o seu lucro conjunto entre 2017 e 2022. Só no ano passado, o salário real de mil milhões de trabalhadores em 50 países teve um corte de 686 mil milhões, apontam as ONG.
Mais de um quinto destes lucros "caídos do céu", cerca de 219 mil milhões de euros por ano, foi parar às contas das 45 empresas do setor energético que figuram na lista da Forbes das duas mil maiores empresas. O aumento dos lucros da energia fez aparecer 96 bilionários no setor, com uma fortuna conjunta de quase 400 mil milhões de euros, mais 46 mil milhões do que em abril do ano passado.
No setor alimentar e de bebidas, calcula-se que 18 empresas tenham faturado um lucro excessivo de quase 13 mil milhões de euros por ano em 2021 e 2022, à boleia do aumento de mais de 14% dos preços dos bens alimentares no ano passado. No setor da distribuição e supermercados, as 42 maiores redes lucraram mais 25 mil milhões por ano do que o que seria devido. A indústria farmacêutica também aproveitou a onda, com as 28 empresas de topo a apresentarem lucros excessivos de mais de 43 mil milhões anuais.
"Estes lucros excessivos não são apenas imorais, mas também existem cada vez mais provas de que esta fartura das empresas está a fazer disparar a inflação, deixando milhões de pessoas no Reino Unido e em todo o mundo com dificuldades para pagar as suas contas e alimentar as suas famílias", disse Katy Chakrabortty, responsável da Oxfam, citada pelo Guardian.
"Quando os lucros excessivos de 18 empresas do sector alimentar e das bebidas são mais do dobro do montante necessário para cobrir o défice de assistência vital a dezenas de milhões de pessoas que passam fome na África Oriental, é evidente que os governos têm de agir", acrescentou a ativista, apelando à introdução de impostos sobre os lucros excessivos que possa "pôr fim a este esquema em que os acionistas ricos são recompensados à custa de todos os outros.".
Há poucas semanas, um estudo do FMI veio confirmar que os lucros das empresas foram responsáveis por pelo menos metade da inflação registada na União Europeia nos últimos dois anos. A mesma conclusão tinha sido tirada por economistas da Reserva Federal em relação aos EUA em 2021. A Oxfam e a ActionAid dizem que a aplicação de um imposto entre 50% e 90% sobre os lucros excessivos a estas 722 grandes empresas daria para cobrir os 400 mil milhões do fundo de perdas e danos ambientais acordado na COP27 e ainda financiar o acesso à saúde, educação e proteção social nos países de baixo rendimento onde vivem mais de 3.500 milhões de pessoas.