Num comício na maior sala de espectáculos de Santa Maria da Feira, o dirigente do Bloco de Esquerda Luís Fazenda acusou o primeiro-ministro demissionário de fazer uma campanha hipócrita, por afirmar defender a justa causa como condição necessária para o despedimento, ao mesmo tempo que assinava o memorando do FMI que diz com todas as letras que é preciso acabar com esse princípio. “José Sócrates e os líderes da direita não se limitaram a capitular perante as instâncias internacionais. Foram mais longe e abandonaram a Lei Fundamental do país. O que assinaram é inconstitucional.”
Luís Fazenda considerou o voto no PS duplamente inútil. “O que dizer de um partido que não serve para governar – a possibilidade de isso acontecer é cada vez mais remota – e ao mesmo tempo nem vai poder fazer oposição, porque assinou o acordo da troika, que será sempre o programa do governo”, disse o dirigente bloquista, lembrando que o PS vai ter de votar o mesmo orçamento que a direita. “Em que lugar ficam então os socialistas que defendem o serviço nacional de saúde, o Estado Social?”, insistiu.
Cinco razões para votar no Bloco
O discurso principal coube a Francisco Louçã, que fez um apelo ao voto, enumerando cinco razões para votar no Bloco de Esquerda. A primeira, é porque é um voto de afirmação de uma vontade. Louçã aproveitou para recordar que a abstenção não é nem nunca será saída. “Se fosse, então o país já estava salvo”, lembrando que Sócrates foi eleito com menos de 1/3 dos eleitores.
A segunda razão é que Sócrates não merece o voto do povo de esquerda. “Ele teve todas as oportunidades para dizer o que ia fazer da Segurança Social. No documento da troika comprometeu-se com uma grande redução da taxa social única”, que é dinheiro produzido pelo trabalhador que é retido para financiar a Segurança Social. Não disse quanto vai reduzir a TSU, nem quando. Vai chegar às eleições sem dizê-lo. “Será que não tem de dizer o que vai fazer pelo menos aos seus eleitores?” Para Louçã, não se pode votar em quem não tem a confiança dos eleitores.
A terceira razão é que o Bloco não se rende diante dos que falam na inevitabilidade. Dizem que não há alternativa. Mas sempre há alternativas, assegurou Louçã, citando o exemplo da Bemicar, fábrica que exporta quase toda a sua produção de calçado ortopédico sem qualquer apoio do estado e pagando salários muito acima da média da indústria de calçado. “Os que dizem que não há alternativa são os que querem levar o país à bancarrota”, disse o coordenador do Bloco de Esquerda.
A quarta razão é que ninguém pode aceitar o “mal pior”, que os políticos manhosos chamam de mal menor.
A quinta razão é que é preciso um novo 25 de Abril para defender a democracia, posta em causa por propostas como a de haver um ministro das Finanças europeu, não-eleito por ninguém, que praticaria o que Louçã chamou de colonialismo.
Antes já falara Pedro Filipe Soares, primeiro deputado do Bloco eleito pelo distrito de Aveiro, que citou a actividade do Bloco em apoio às lutas dos trabalhadores do distrito, e pediu a eleição de um segundo deputado bloquista em Aveiro, que seria Odete Costa.
Falaram também a própria Odete Costa e o mandatário da candidatura, Celso Cruzeiro.