Está aqui

Longas filas para a eleição mais polarizada de sempre em Madrid

As eleições regionais madrilenas realizam-se esta terça-feira. Só a forte mobilização do eleitorado à esquerda poderá evitar a entrada da extrema-direita no próximo governo.
Fila para votar esta manhã em Madrid.
Fila para votar esta manhã em Madrid. Foto Juan Carlos Hidalgo/EPA

A meio da manhã, o governo regional madrileno pediu “paciência” e “tranquilidade” aos eleitores que estão a tentar votar e enfrentam longas filas por causa dos protocolos sanitários nos centros de voto. Tirando as filas, a votação matinal tem decorrido sem incidentes, à exceção de uma ação de protesto do grupo feminista Femen no local onde vota a candidata e líder madrilena do Vox, Rocío Monasterio.

Pela primeira vez desde 1987, os mais de cinco milhões de eleitores da região de Madrid votam a um dia de semana. Desde o início da manhã têm-se registado longas filas em alguns dos mais de mil centros de votação, 429 dos quais na cidade de Madrid. As escolas estão fechadas e os trabalhadores têm autorização das suas entidades patronais para se ausentarem por um máximo de três ou quatro horas para exercerem o seu direito de voto, consoante a sua jornada de trabalho seja de quatro a seis horas ou de mais de seis horas. Por causa da pandemia, o governo regional recomenda aos maiores de 65 anos ou em situação de saúde vulnerável que votem entre as 10h e o meio dia. Quem tiver sintomas de covid-19 deve fazê-lo no fim do horário da abertura de urnas, entre as 19h e as 20h.

À saída do centro eleitoral, o candidato da Unidas Podemos, Pablo Iglesias, afirmou-se confiante de que “esta noite vamos poder festejar”, pois acredita que “haverá uma enorme lição democrática” por parte da maioria do eleitorado madrileno “que quer saúde pública e serviços públicos”.

“Estas eleições são muito mais que umas eleições regionais para a Comunidade de Madrid. Nestas eleições está em jogo travar a mentira, o ódio, a ultradireita que quer parasitar as nossas instituições e destruir os serviços públicos”, afirmou o candidato que abandonou o Governo para encabeçar a lista do seu partido. O Podemos é a terceira força da esquerda madrilena, atrás do PSOE e também do Más Madrid que tem como principal figura nacional o fundador e então braço direito de Iglesias do Podemos, Iñigo Errejón. As sondagens preveem que essa ordem se mantenha nas eleições, embora a presença de Iglesias na campanha tenha afastado as previsões que temiam ver o partido abaixo da cláusula barreira de 5% que dá acesso ao Parlamento regional.

Quem saiu aparentemente reforçada da campanha foi a candidata do Más Madrid, Mónica Garcia. Ela protagonizou a oposição ao governo do PP liderado por Isabel Dias Ayuso no último mandato e temia-se que fosse a principal prejudicada pela entrada de Iglesias na corrida. Mas a boa prestação nos debates valeu-lhe uma subida nas intenções de voto, que espera ver concretizada quando chegar a contagem na noite eleitoral desta terça-feira. Mónica Garcia foi a única cabeça de lista a votar antecipadamente por correio, mas fez questão de aparecer nesta manhã eleitoral a acompanhar o pai a votar.

O cabeça de lista mais madrugador é o que as sondagens preveem que terá menos razões para sorrir esta noite. Edmundo Bal, do Ciudadanos, dificilmente evitará o colapso do partido em Madrid e só poderá tentar cantar vitória caso ultrapasse os 5% e consiga manter a representação parlamentar. Ante a polarização da campanha, o partido laranja tentou apresentar-se como a única voz da moderação e do centro político nesta eleição, como prova o seu slogan “Escolhe o centro”. Mas dada a posição de partida enquanto terceira maior força no parlamento regional atual, é pouco provável que saia da eleição sem ser como o grande derrotado.

A contribuir para a polarização estiveram as ameaças de morte recebidas por Pablo Iglesias e outros governantes espanhóis ao longo da campanha. A recusa da candidata do Vox em condenar essas ameaças acabou por pôr um ponto final aos debates entre candidatos na comunicação social, com Iglesias a abandonar um debate em direto e os restantes candidatos da esquerda a decidirem depois seguir o seu exemplo.

Todas as sondagens apontam para uma vitória da atual líder do Governo, com o PP a ter de aliar-se à extrema-direita do Vox para conseguir maioria para governar. A confirmar-se este cenário, Isabel Diaz Ayuso dará por bem sucedida a sua jogada política de convocar eleições antecipadas, ao prever que o Ciudadanos lhe retiraria em breve o apoio parlamentar, como fez ao PP na região de Murcia. A entrada de Iglesias na campanha deu-lhe a oportunidade para polarizar o discurso em torno da ideologia - “Comunismo ou liberdade” foi um slogan usado várias vezes - e assim desviar o foco da campanha da sua gestão trágica da crise pandémica, quase sempre contraditórias com as medidas sanitárias definidas pelo governo central.

A confirmar-se uma vitória de Ayuso, ela terá também significado no plano interno, ao afirmar-se definitivamente como a alterantiva mais forte à atual liderança de Pablo Casado à frente do PP espanhol. À saída da urna de voto, a atual lider do executivo de Madrid fez questão de afirmar que estas eleições escolhem “o modelo de comunidade e de país” para o futuro.

Quanto ao candidato do PSOE, Ángel Gabilondo, tem poucas probabilidades de repetir o feito das anteriores eleições, em que foi o candidato mais votado, embora sem maioria para governar. Apesar de contar com o apoio na máxima força da liderança do partido e do governo nacional, que se apercebeu da dimensão nacional que esta eleição assumia, Gabilondo não conseguiu destacar-se nos debates e acabou por protagonizar uma campanha de ziguezagues, tendo começado por fechar a porta a acordos à esquerda para terminar a campanha a apelar a esses acordos. Tendo em conta que a maioria do eleitorado que votou Ciudadanos se inclina mais para Ayuso do que para Gabilondo, só mesmo a concretização dos seus apelos à mobilização do eleitorado da esquerda poderia dar uma maioria aos três partidos e conduzi-lo à chefia do executivo.

Termos relacionados Internacional
(...)