O antigo militante do PSD em Ovar e atual líder do Chega no concelho confessou em entrevista ao Diário de Notícias ter entregue subornos a Salvador Malheiro, presidente da Câmara de Ovar e quarto candidato por Aveiro nas listas da AD às legislativas.
Mário Monteiro esteve no PSD durante 40 anos e o seu nome aparece numa denúncia anónima como o intermediário dos subornos que um empreiteiro local, Barros de Sousa, pagou ao autarca a troco de adjudicação de obras no concelho. Numa entrevista ao DN, o atual líder do Chega/Ovar conta como juntou empreiteiro e edil num almoço e achou "natural" o acordo em que para ganhar uma obra de um museu escolar o empreiteiro teria de pagar 120 mil euros para o PSD. "Eu fiquei até satisfeito. Como era um militante ativo, disse, “pronto, vai-se acabar o problema das contas do partido aqui na terra”", relata Monteiro, que no mesmo almoço ficou responsável por recolher e entregar as parcelas do suborno "entre meados de 2016 e início de 2017".
Segundo conta o dirigente do Chega, o dinheiro era entregue a Malheiro em vários locais como o estacionamento da Câmara ou em restaurantes. "Se estava acompanhado, dava-me a chave do carro para ir lá pôr o dinheiro no porta-luvas ou debaixo do banco, Dava-lhe a chave e ia à minha vida. Se ele estava sozinho, entregava-lhe", diz Monteiro, recordando-se de ter feito "umas sete ou oito ou nove" entregas.
Diz que parou de ser intermediário quando "já se começava a ouvir uns zunzuns" na terra. Fez as contas ao dinheiro envolvido e concluiu que "qualquer dia isto vai sobrar para mim", não o dinheiro mas os problemas: "Eu digo assim, bem, eu não vou andar sempre a fazer de correio, porque eu não tenho nenhum ganho com isto, eu apenas sirvo de estafeta, como se diz na gíria. Sei que é dinheiro porque percebi que era dinheiro, porque é fácil ver o que envelope tem. E os envelopes não vinham fechados, até porque havia uma base de confiança".
Salvador Malheiro reagiu à entrevista a refutar "totalmente as acusações" e a prometer que "na próxima segunda-feira irá entrar uma queixa-crime contra essa pessoa porque tenho de defender a minha honra". Em declarações citadas pela agência Lusa, o candidato da AD classificou os relatos do antigo apoiante e companheiro de partido como "imaginação pura, uma ilusão", desafiando Monteiro: "esse senhor vai ter de provar que é verdade".
O empreiteiro José Barros de Sousa também foi contactado pelo DN mas recusou-se a fazer comentários.