Março de 2022. O Dinheiro Vivo contava uma história de sucesso. A Kinda, marca de mobiliário e decoração do grupo Nuvi, acabava de abrir mais uma loja, totalizando assim quatro no país. Esta abertura “criava” dez novos postos de trabalho que se somavam ao outros cem trabalhadores. Contava-se então que a empresa queria “abrir uma loja ao ano, pelo menos” e que “o foco são as grandes cidades europeias, como Madrid e Barcelona, entre outras”.
Nas declarações ao órgão de comunicação social, John Leitão, CEO da Kinda, transpirava confiança anunciando-se vendas de sete milhões de euros em 2021 e o objetivo de chegar aos nove milhões no ano que decorria. Em cinco anos, previa-se uma “presença mais estabelecida na Europa”.
Havia um senão: a “alteração radical do contexto económico” com a pandemia tinha feito a empresa “reajustar” a sua estratégia, o que implicava reduzir o tamanho das lojas. O seu espaço de sete mil metros quadrados na Estrada da Circunvalação, no Porto, aberto em novembro de 2018, tinha assim sido reduzido a metade, alugando-se o espaço a “uma insígnia de retalho alimentar”. Mas era ainda sob o signo do otimismo que se apresentava o que estava a acontecer porque se iria tornar o “polo comercial mais interessante, quase como um mini-centro comercial”.
Ao mesmo tempo, explicava-se que o grande projeto da marca, a criação de uma mega-loja nos terrenos da fábrica dos Cabos d’Ávila, na Amadora, tinha ficado “congelada”. Isso não abalava a positividade continua no discurso do administrador: “há um regresso às lojas de rua e isso levou-nos a apostar em pequenas lojas boutique, lojas únicas em localizações com história e personalidade e em peças de coleções ecléticas, mantendo preços acessíveis e competitivos”.
Dezembro de 2023. O Jornal de Negócios informa que a empresa comunicou aos trabalhadores que vai encerrar e avançar com um despedimento coletivo. O novo CEO da empresa, Dinis Santos, explicou ao jornal que ainda “não está ainda definido como vai ser executado esse fecho e o despedimento coletivo”.
A fortuna de Luís Vicente
A Kinda é propriedade de Luís Vicente. O Negócios apresenta-o como “um dos homens mais ricos de Portugal” e conta a história de uma fortuna que começou com a pera rocha, nos anos 1960, em Torres Vedras, e se expandiu para a produção e comercialização de fruta e legumes.
Vicente passou investiu nos anos 1990 em Angola, sendo dono da Refriango, que produz refrigerantes e sumos, de uma rede de lojas de retalho com as marcas Mega – Cash & Carry, Bem Me Quer e Bem Perto e “empregando mais de cinco mil pessoas”.
O seu grupo económico em Angola, chamado Nuvi, apostou em 2013 num outro negócio: as lojas de mobiliário e decoração, criando aí a Kinda Home que tem quatro espaços comerciais. A partir daí, a marca chegou, em novembro de 2018, a Porto. A já referida loja do Porto, representou “um investimento superior a 20 milhões de euros e que, na altura, criou, 150 postos de trabalho”. Recorde-se que em março do ano passado se referia que com a abertura da nova loja se passaria a 110 trabalhadores. Sobre a diferença de 50 pessoas, nada era referido na história de sucesso da redução da loja do Porto.
O mesmo jornal dá conta que a abertura da mega-loja na Amadora estava “sinalizada a abertura para o final do ano seguinte”, num investimento de 25 milhões euros. A Kinda Home deixou cair o Home no nome e investiu em vez disso em três outras pequenas “boutiques” em Oeiras e Lisboa. Indica-se ainda a existência de uma loja em Madrid.
O Negócios acrescenta ainda uma “última nota” à noticia: “em março passado, a Jerónimo Martins e o grupo Nuvi notificaram a Autoridade da Concorrência da criação de uma "joint-venture" para a produção de mandarina, nectarina, pêssego e ameixa”.