Foi o maior protesto anti-nuclear e político desde que explodiu a crise nuclear de Fukuhsima 1. Personalidades como o Prémio Nobel da Literatura Kenzaburo Oe, o jornalista Satoshi Kamata e o actor Taro Yamamoto participaram da manifestação, que reuniu 60 mil pessoas, na segunda-feira, na capital nipónica.
Pouco mais de seis meses após o início do acidente, ao contrário de diminuir, aumenta o número de japoneses favoráveis ao encerramento de todas as centrais nucleares no arquipélago, com os seus 54 reactores.
Desde Fukushima 1, quando foi destruído o mito da segurança das centrais nucleares, o problema não só não terminou como continua a ampliar-se. Nos últimos dias foi noticiada a existêncai de radioactividade acima do limite legal em peixes criados na província de Gunma. Também foi detectada radioactividade acima do limite em cogumelos silvestres, o que levou à proibição do envio dessa delícia outonal em 43 municípios. O festival anual de caça ao cogumelo matsutake, um luxo da culinária japonesa foi cancelado este ano em Fukushima.
A cada dia que passa novos itens vão sendo acrescentados à lista de produtos contaminados ou suspeitos.
O cão atómico
Com a criação da área de entrada proibida, os moradores foram obrigados a abandonar as suas moradias. Na correria, os animais de estimação foram abandonados e os cães, literalmente, passaram a ter vida de cão. Seis meses depois, alguns já viraram selvagens, fugindo ao contacto humano. Com o passar dos meses, centenas de cães abandonados começaram a acasalar. Os cachorrinhos que vão nascer desse acasalamento nascerão em estado selvagem. Desde Maio, a câmara municipal já capturou mais de 300 animais. Especialistas temem que os cães possam transmitir doenças às pessoas caso deixem a zona proibida. Muitos dos antigos proprietários estão a viver em casas provisórias fornecidas pelo governo e impossibilitados de criar os seus antigos mascotes.
Ainda que não tenha sido comprovada a contaminação desses cães, é de se supor que, vivendo na área de alta radiação, eles não poderão ser imunes a ela, assim como ocorre com as vacas, javalis, peixes e alimentos.
A necessidade de um Bloco de Esquerda no Japão
A grande manifestação desta segunda-feira evidencia, uma vez mais, a necessidade do surgimento de uma alternativa de esquerda no Japão, um Bloco de Esquerda japonês, independente do Partido Comunista e dos sindicatos controlados pela patronal imperialista. O novo primeiro-ministro, Noda, não só prepara a reforma fiscal como defende o despedimento de parte dos funcionários públicos. No momento em que aumenta o desemprego, Noda, em vez de criar novos postos, planeia aumentar o desemprego. O ataque ao funcionalismo público é também um ataque aos serviços públicos prestados à população.