Flotilha humanitária

Itália envia fragata e Espanha um navio‑patrulha para proteger flotilha

25 de setembro 2025 - 18:10

Governos italiano e espanhol respondem aos ataques de drones com o anúncio do envio de navios de guerra para proteger a missão que leva ajuda humanitária para a Faixa de Gaza. Há poucas semanas, o ministro português Paulo Rangel dizia que isso seria “inusitado”.

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A bordo do navio-patrulha Furor
A bordo do navio-patrulha Furor. Foto do Ministério da Defesa de Espanha

Depois de na madrugada de quarta-feira 14 embarcações da Global Sumud Flotilla terem sido alvo de ataques por drones ao largo da Grécia - e dias depois de uma greve geral que levou centenas de milhares às ruas de Itália - o ministro da Defesa Guido Crosetto anunciou o envio de uma fragata que já estava a operar na zona para prestar apoio e eventual socorro aos navios da flotilha humanitária em caso de novo ataque.

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"Perante o ataque perpetrado nas últimas horas contra os navios da flotilha Sumud, que inclui também cidadãos italianos, e perpetrado com drones por autores ainda não identificados, não podemos deixar de expressar a nossa mais forte condenação", afirmou Crosetto em comunicado. O governo de Giorgia Meloni tem sido criticado pela sua proximidade a Netanyahu e a primeira-ministra da extrema -direita, embora tenha condenado o ataque dos drones, voltou a apelidar a missão de “perigosa e irresponsável”, propondo que a ajuda com destino a Gaza ficasse pelo caminho, neste caso no Patriarcado Latino de Jerusalém em Chipre.

Em comunicado, a direção da flotilha saudou a condenação do ataque de que foi alvo e o reconhecimento por parte do ministro da Defesa italiano da natureza democrática e não-violenta da missão. E diz ver no envio da fragata um primeiro passo no sentido do apelo que fez aos estados-membro da ONU e em especial aos que têm cidadãos a bordo da missão para que tomem medidas para a proteger.

Horas depois do anúncio italiano, também o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez anunciou em Nova Iorque o envio de um navio-patrulha da Marinha com 46 militares e  “equipado com todos os meios” para junto da flotilha humanitária. “O Governo de Espanha exige que se cumpra a lei internacional e que se respeite o direito dos nossos cidadãos a navegar pelo Mediterrâneo em condições de segurança”, acrescentou.

«O objetivo deste navio é garantir que, em caso de dificuldade, os cidadãos nacionais e os membros da Flotilla da Paz possam ser resgatados. Esperemos que isso não aconteça. Outros países já tomaram essa decisão, como a Itália e, evidentemente, vamos garantir essa segurança aos nossos concidadãos», prosseguiu Pedro Sánchez, defendendo que os membros da flotilha estão a “expressar a solidariedade de milhões e milhões de pessoas no mundo” com a população de Gaza condenada à fome e som intensos bombardeamentos por parte de Israel.

As palavras de Sánchez foram recebidas com aplausos nos barcos da flotilha, reatou o jornalista do diário espanhol Público a bordo de um deles. “Vamos chegar a Gaza, tenho a certeza, o mundo está a ver e cada dia a pressão é maior”, afirmou a ativista marroquina Reyes Rigo, prevendo que “não terão outro remédio do que deixar-nos entrar porque estão sozinhos no mundo”. Já Ariadna Masmitjá, uma das organizadoras, foi mais prudente e afirmou que o governo espanhol “vem dois anos atrasado. Se agora decidiu agir foi apenas porque há um povo mobilizado a exigi-lo nas ruas. Esta é a demonstração do nosso poder como sociedade”.

Rangel disse que o Governo português "não tem nada que proteger, nem acompanhar" a flotilha

O anúncio espanhol e italiano contrastam com a posição do Governo português quando foi confrontado com os primeiros pedidos de proteção à flotilha. "Não vamos agora pôr a frota da Armada Portuguesa a acompanhar esta flotilha”, afirmou o ministro, considerando o pedido “algo que me parece inusitado" e concluindo que o Governo português "não tem nada que proteger, nem acompanhar" a flotilha. Nos últimos dias têm-se sucedido os apelos ao Governo para que reverta essa posição e tome medidas urgentes para proteger a missão humanitária onde navegam Sofia Aparício, Miguel Duarte e Mariana Mortágua.

“Itália e Espanha vão proteger a Flotilha Humanitária. Portugal tem a mesma obrigação. Há um barco com bandeira portuguesa e cidadãos nacionais a bordo. A ameaça de Israel, sabemos todos, é real. E o governo português tem de agir no quadro do direito internacional e humanitário”, afirmou a candidata presidencial e eurodeputada do Bloco, Catarina Martins, nas redes sociais.

As marinhas de Itália e Espanha fizeram saber que estão em estreita colaboração e que a missão não é a de escoltar a flotilha ou confrontar militarmente Israel, mas intervir em caso de necessidade humanitária ou resgate.

Depois dos ataques de quarta-feira, a flotilha decidiu aproximar-se da costa grega para navegar em águas territoriais deste país membro da UE e da NATO, na esperança de que essa circunstância signifique um desincentivo aos ataques israelitas. Durante a noite vários drones sobrevoaram a flotilha, mas os seus membros acreditam que podem pertencer ao próprio Governo grego ou à agência Frontex que patrulha aquelas águas. A questão agora é se a flotilha irá ou não abrandar o ritmo, numa altura em que se encontra a cinco dias de navegação de Gaza, para esperar a chegada do navio-patrulha Furor, que deve sair esta quinta-feira de Cartagena e navegar 800 milhas náuticas, quase 1.500 quilómetros, para os encontrar.

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