O que é uma flotilha?
Uma flotilha designa simplesmente um grupo de barcos que navegam em conjunto. É um derivado da palavra frota.
O que pretende esta missão?
O objetivo de uma flotilha humanitária como esta é levar ajuda a zonas em crise, nomeadamente alimentos, medicamentos e outros bens essenciais. Neste caso o destino é a Faixa de Gaza.
Porquê Gaza?
Desde 2007 que Israel mantém um controlo apertado, e ilegal à luz do direito internacional, quer do espaço aéreo de Gaza quer das suas águas territoriais. Por isso, ainda antes do atual genocídio na Faixa de Gaza, já se tinham organizado várias expedições deste tipo, pretendendo-se quebrar esse bloqueio israelita. No atual contexto, com um genocídio em curso e com as forças armadas israelitas a usar a fome como arma de guerra e a bloquear o acesso a Gaza das organizações humanitárias internacionais, tal missão ganhou outra urgência.
Porquê chamar-lhe Global Sumud Flotilla?
Sumud é uma palavra árabe que significa “firmeza” ou “resiliência”.
De onde são os participantes da flotilha?
A Global Sumud Flotilla é a maior de todas as missões humanitárias marítimas que se organizaram, reunindo mais de 50 barcos e delegações de cerca de 44 países de todo o mundo. Transportam toneladas de bens.
Quem são estas pessoas? São só “famosos”?
De acordo com a organização da flotilha, mais de 15 mil pessoas fizeram uma pré-inscrição em que se disponibilizaram para participar na ação. Como é óbvio, poucas acabaram por poder participar por razões logísticas. A bordo vão marinheiros, organizadores, médicos e outros trabalhadores da saúde, ativistas dos direitos humanos e trabalhadores humanitários mas também artistas, advogados, religiosos e representantes eleitos nos seus países de origem. Assim, o destaque mediático tem sido dado às caras mais conhecidas mas a tripulação da flotilha é bem diversa.
Também portugueses?
A delegação portuguesa é constituída por três pessoas. O ativista humanitário Miguel Duarte, a atriz Sofia Aparício e a coordenadora do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua.
E quem organiza isto?
Para organizar a missão humanitária juntaram-se sobretudo quatro grupos: o Global Movement to Gaza, que se chamava antes Marcha Global para Gaza, um movimento que se juntou para organizar ações de solidariedade para com Gaza; a Freedom Flotilla Coalition, que já tinha organizado expedições humanitárias a Gaza anteriormente; a Maghreb Sumud Flotilla, que como o nome indica é organizada por grupos do norte de África que pretendem levar ajuda à Palestina; e a Sumud Nusantara que junta pessoas da Malásia e de outros oito países do sul com o mesmo intuito.
A gestão no terreno é de um comité de direção que junta pessoas como a ativista ambiental sueca Greta Thunberg, que entretanto abandonou funções diretivas mas continua na flotilha, a historiadora Kleoniki Alexopoulou, a ativista dos direitos humanos Yasemin Acar, o ativista ambiental Thiago Avila, a politóloga e advogada Melanie Schweizer, a cientista social Karen Moynihan, a física Maria Elena Delia, o ativista palestiniano Saif Abukeshek, o ativista humanitário Muhammad Nadir al-Nuri, o ativista Marouan Ben Guettaia, o ativista Wael Nawar, a investigadora social Hayfa Mansouri e a ativista de direitos humanos Torkia Chaibi.
Que outras flotilhas houve e o que aconteceu?
Desde que se começaram a organizar flotilhas para Gaza, a maior parte dos esforços foram travados à força por Israel. Mas há também casos de sucesso. Em 2008, dois barcos do Free Gaza Movement conseguiram chegar a Gaza. Depois disso, cinco outros alcançaram o território ocupado.
Desde 2010, todas as flotilhas foram intercetadas ou atacadas por Israel em águas internacionais. Foi o caso da Gaza Freedom Flotilha, em 2019, com o ataque de comandos israelitas ao barco Mavi Marmara em águas internacionais a causar a morte a dez ativistas e ferimentos em dezenas de outros dos mais 600 participantes; da Freedom Flotilla II, em 2011 e da Freedom Flotilla III, no ano seguinte e da Freedom Flotilla III, em 2015; da Just Future for Palestine, em 2018.
Já este ano tinha havido mais duas tentativas, a Break the Siege Conscience, atacada por drones duas vezes ao largo de Malta, tendo causado um incêndio e um rombo no navio que obrigou os ativistas a uma fuga, e a Madleen, que no início de junho foi intercetada pelo exército israelita a cerca de cem milhas náuticas de Gaza, mais uma vez em águas internacionais. No final de julho, o barco Handala que carregava ajuda foi invadido por tropas israelitas.
E desta vez, o que se tem passado?
A atual Global Sumud Flotilla já foi atacada por drones por três vezes. Em dois dias consecutivos, dois barcos foram atingidos enquanto estavam no porto de Tunes, capital da Tunísia. Na madrugada de 24 de setembro, já ao largo da Grécia, sete barcos foram atacados através do mesmo meio. As comunicações foram bloqueadas, houve explosões e uma das embarcações ficou danificada.
Para além dos ataques, como está Israel a reagir à flotilha?
O governo sionista não hesita em fazer ameaças diretas à flotilha. O primeiro a fazê-lo foi o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, que ameaçou que iria assumir controlo dos barcos à força, prender e tratar todos os presentes como “terroristas”.
Depois disso, vários outros o têm feito. O Ministério para os Assuntos da Diáspora e o combate do Antissemitismo declarou que a flotilha tem “ligações” ao Hamas e à Irmandade Muçulmana e o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita anunciou oficialmente que o governo não irá permitir a sua aproximação da Faixa de Gaza.
Para além das ameaças, Israel está a investir milhões em anúncios nas redes sociais para retratar a missão humanitária e os seus participantes como terroristas. E a direita e extrema-direita dedicam-se a espalhar desinformação sobre “festas” no sentido de tentar descredibilizar os participantes.
De resto, como tem corrido a viagem?
Os barcos da flotilha têm convergido a partir de vários portos diferentes. Uma parte significativa saiu de Barcelona a 31 de agosto. Esta parte da expedição enfrentou ventos fortes e uma tempestade que obrigou a um atraso. Alguns dos barcos tiveram de fazer pausas para reparações em Menorca e Maiorca. Depois disso, alcançaram Tunis, onde aportaram durante alguns dias e os barcos do Magrebe acabaram por se lhe juntar. Outras embarcações saíram de Génova, a 31 de agosto, da Catânia, e da Grécia depois disso. Houve ainda uma tentativa de enviar barcos a partir do Egito mas o governo não a autorizou e da Líbia há a informação que vários barcos se irão juntar.
E onde está a flotilha agora?
Podes acompanhar a localização em tempo real de todos os barcos da flotilha neste link.