O governo israelita está a ser acusado de usar a comida como arma de guerra, após ter dado ordens para não deixar entrar na Faixa de Gaza mais camiões com ajuda humanitária este fim de semana. O prazo da primeira fase do cessar-fogo terminou no sábado, mas as negociações para a segunda fase, que deviam ter começado há várias semanas, têm sido recusadas por Netanyahu, que usa agora o bloqueio da ajuda para tentar obrigar o Hamas a entregar os reféns sem ter em troca um compromisso do fim da guerra, no que diz ser o plano apresentado pelo enviado de Trump, Steve Witkoff, sem que a Casa Branca tenha divulgado o conteúdo desse plano que prolongaria por 50 dias o cessar-fogo em troca da libertação imediata de metade dos reféns.
O Hamas respondeu acusando os israelitas de "extorsão barata, crime de guerra e ataque flagrante". E as condenações ao novo bloqueio israelita vieram também do secretário-geral das Nações Unidas, do Comité Internacional da Cruz Vermelha e de outras organizações no terreno, que afirmam tratar-se de um desrespeito pelas leis humanitárias internacionais. O bloqueio à entrada de alimentos em Gaza foi um dos elementos analisados no processo que levou à emissão de mandados de captura por parte do Tribunal Penal Internacional contra Netanyahu e o então ministro da Defesa Yoav Gallant.
Familiares de reféns exigem negociação de acordo para a libertação total
Este fim de semana houve manifestações em Israel à porta de Netanyahu e das casas de alguns ministros a exigir ao Governo que assegure o regresso dos reféns ainda na posse do Hamas ao fim de mais de 500 dias de cativeiro. Entre os manifestantes estavam familiares desses reféns, com alguns a afirmarem que tal como no passado, a postura negocial de Israel pode voltar a custar vidas.
“Netanyahu enterrou o acordo e não está disposto a falar da segunda fase. Em vez de uma verdadeira negociação enviou uma delegação a fingir com uma proposta a fingir para boicotar o acordo e culpar depois o Hamas (…). Há um acordo que se pode aplicar já amanhã de manhã: fim da guerra e regresso de todos [os reféns] de uma só vez. Mas Netanyahu arrasta-nos de volta a uma guerra fútil”, afirmou Einav Zangauker, a mãe de um dos reféns e ex-apoiante de Netanyahu e do Likud, que em dezembro prometeu tornar-se “o pior pesadelo” do primeiro-ministro, acusando-o de mentir e ter decidido sacrificar alguns reféns em troca da vitória contra o Hamas.
Na terça-feira, os países da Liga Árabe vão reunir no Cairo sobre a situação em Gaza. Na agenda estará o debate sobre a vontade declarada por Israel de retomar a guerra no território e as ameaças de Trump de tomar conta de Gaza e expulsar a sua população, mas também a apresentação de um plano alternativo de reconstrução.